29 abril 2009

Fernando Pessoa, Minha liberdade em espirito

 Em três momentos Fernando pessoa disse:

1 - Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo em que tempos consciência dum estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção.


2 - Todo o estado de alma é uma passagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós, uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E - mesmo que se não queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem - pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. Se eu disser "Há sol nos meus pensamentos", ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes.


3 - Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, tempos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora, essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo - num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva - e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma - é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que "na ausência da amada o sol não brilha", e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Tem de ser duas paisagens, mas pode ser - não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem - que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior.

 

 Depois escreve:

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.

Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,

Coração de ninguém.

6-1-1923

 

Um dos autores que mais gosto de ler, mas pouco me atrevo a devorar-lo como se ele fosse uma leitura simplória, ou como se fosse algo que simplesmente lê-se por ler. Mas vamos ao que interessa... Estes textos são para mim algo que realmente me devolve ao centro dos meus raciocínios, sabendo-se que existem fatos em nossas vidas, onde elas nos arremessam longe do raciocínio coerente. E em particular este texto mesmo que tantas vezes lido e relido, cada novo debruçar sobre... me dá nova perspectiva, ou seja a de que devo colocar tudo dentro do lago do esquecimento, por que nem mesmo o temporal fará o lago morto se revolver!

27 abril 2009

O que falar de Ronaldo?

POR PAULO CALÇADE/ESPN BRASIL
Que há quatro meses ele parecia mais fora do futebol do que dentro?
Que ele ainda luta heroicamente contra os quilos a mais que a balança insiste em mostrar?
Que ele tem justificado no Corinthians cada letra do apelido?
É, o Fenômeno decidiu mais uma partida.
Onde no início havia apenas uma grande jogada de marketing agora existe um jogador de futebol de verdade, um sujeito motivado e feliz.
Amparado por competentíssimos profissionais brasileiros, como o fisioterapeuta Bruno Mazziotti, R9 tem exibido força e velocidade, num trabalho de recuperação que merece entrar para a literatura médica do país.
Ronaldo faz, no Brasil, o que seus últimos anos na Europa não lhe permitiram.
Ah, os zagueiros estão aliviando a marcação...
Não foi essa a realidade do jogo.
A vitória sobre o Santos mostrou algo muito mais interessante: num futebol repleto de gente que se assusta diante do gol, Ronaldo simplifica, apresenta uma tranquilidade absurda, que pode ser confundida.
Parece que os adversários não querem tocá-lo. O problema é que não conseguem.
Quando a bola chutada por Chicão foi dominada, chegou ao gramado pronta para ser finalizada.
O terceiro gol corintiano aconteceu bem na minha frente. Durante toda a ação, não acreditei que ele tocaria por cobertura, não faria o mais difícil, passaria para Elias.
A dificuldade de um é a facilidade do outro.
Genial.
É muito bom poder ver esse tipo de jogador em gramados brasileiros, afinal o normal é vendermos os craques e compramos os campeonatos onde eles jogam.
Com Ronaldo tem sido diferente.
O jogo não acabou, mas o Corinthians deixou a Vila Belmiro debruçado sobre a taça de campeão paulista.
O Santos preferiu insistir nos mesmos erros que lhe custaram a vaga na Copa do Brasil. Mas do outro lado não havia mais o CSA.
Vagner Mancini terá de fazer o time acreditar, mas são duas pancadas muito fortes num curto espaço de tempo.
E não basta apenas acreditar, o gol não pode ser um detalhe. É preciso marcá-lo. E isso Ronaldo continua sabendo fazer muito bem num momento em que Kleber Pereira anda tão distante.

Um casamento maldito




Depois de um casamento de quase vinte anos resolvi pedir o divórcio... 

Sim, depois de quase vinte anos fumando resolvi parar, e devo confessar que ja na segunda noite sem o canceroso nos dedos senti certa diferença, assim como prestei atenção em como algumas coisas de cara mudaram... (as minhas lindas cervejas Larger se fizeram sentir o gosto real no primeiro dia hahahaha)

 Mas não estou aqui para levantar bandeira de porra nenhuma, ou mesmo me fazer de vitima, fumei por todo este tempo ciente mesmo, e só estou a parar por que preciso respirar (é horrível viver a base de remédios para poder respirar), adoro dormir também, mesmo dormindo cedo todo dia (de manha) e também acordar cedo (cedo para o lanche vespertino, adoro quando faço isso, viva os feriados prolongados)... Assim como adoro a minha cerveja, e tem disgranhento que não bebe e torra os pacovas.

 O que estou mesmo a fim de dizer é, só estou conseguindo lutar contra este casamento que me foi pérfido, por conta dos amigos, e sem alardes, sem barulho tomei a decisão conversei com umas quatro pessoas e vamos ver o que vira... Sou honesto o suficiente para assumir que ha tempos que eu venho querendo parar, mas não conseguia, por pura cretinice mesmo, assumo, sou fraco sim para fazer isso sozinho, assim como assumo que sem ajuda não estaria nem dando os primeiros passos. Outra coisa interessante do parar de fumar, é não precisar mais ficar preocupado com fumódromos, ahahahahaaha!

 Agora falando realmente um pouco mais sério, por mais que para alguns o cigarro seja apenas algo fedorento, para outros é um vicio mortal mesmo, quantas vezes acordei três horas da manhã apenas para fumar, quantas vezes só conseguia relaxar se fumasse uns quatro uma traz do outro, e o mais horrível ocorreu certo tempo atrás, me foi pedido para conversar com um garoto, para ajudar ele com os vícios que possuía com certos entorpecentes, eu me senti animado de ir lá e ajudar ele, mas como fazer isso? Eu tremia nas bases de imaginar ele usando um belo argumento: "você também é um viciado (sim o fumante é dependente químico sim!) e não larga o seu vício, por que me encher a paciência por conta do meu?", eu deixei quieto... Duas semanas depois ele foi morto em uma praça no centro da cidade na madrugada, acerto de contas... eu nunca conversei com o moleque por que meu telhado era de um vidro bem fininho...

 Mas vamos em frente... Nunca desistir e sempre adiante seguir, este foi, está sendo e sempre será o meu lema.

Abraços a todos e Obrigado aos que me ajudam com este divórcio.

 Ileniel Nunes

20 abril 2009

Zeigeist

 Um documentário que a priori parece ser apenas mais um relacionado as várias e nefastas teorias da conspiração, mas se assistido de forma bem atenta... Descobrirás que na verdade é um tema bem corrosivo e que mexe com a sua visão de mundo, colocando muita coisa em cheque, dogmas da religião, da politica, da mediocridade, e para ignóbeis que vivem acreditando que tudo está bem como esta.
 Situações que antes pareciam imutáveis são derrubadas como castelos de cartas, mostrando que somos uma socicedade que vive de forma cancerigêna,  se Deus existe ou não, é algo que passa bem longe de ser discutido nos dos dois filmes.
 A forma como as explanações são colocadas de formas filosóficas, e suas respectivas soluções...
 Para quem gosta de pensar e refletir, um prato cheio para quem acredita em Coelinho da Páscoa, pode retornar a vida mediocre.

ZeitGeist Final Version   
Mostra como a humanida de é idiota e facilmente enganada ao longo de milenios, e como o homem está atingindo o seu principal objetivo, poucos dominando o mundo.

ZeitGeist Addendum
 Prima por fechar o ciclo de ideias do primeiro, mostrando os problemas e suas respctivas soluções, nada utópico, apenas dificil de serem colocadas em praticas por problemas de mediocridade, imbecilidade, bestialidade, ignorancia, egoismo, e burrice humana (e minha teimosia em lutar contra isso)...

Link do site para ver o filme com outras legendas --> (Filme)
Na Wikipidia --> (Sobre)
site Oficial --> (Site)

 Reconheço que de certa forma pego pesado em algumas exclamações minha, mas é deveras importante deixar frisado, que, muita esta´no alcance de todos, e que a ignorância é um prato cheio para se deixar ser explorado...
 Em particular quando findei o primeiro filme eu sai com uma senhora dor de cabeça pela quantidade absurda de informações, e eu mesmo por alto dominava cerca de 15% do ali exposto. O interessante fica por conta da obrigatóriedade em se rever as várias opiniões já formadas...


(Novo video adicionado em 13/12/2010)

17 abril 2009

Só as mães são felizes

Você nunca varou A Duvivier às 5
Nem levou um susto Saindo do Val Improviso
Era quase meio-dia No lado escuro da vida Nunca viu Lou Reed
"Walking on the wild side"
Nem Melodia transvirado Rezando pelo Estácio
Nunca viu Allen Ginsberg Pagando michê na Alaska
Nem Rimbaud pelas tantas Negociando escravas brancas
Você nunca ouviu falar em maldição
Nunca viu um milagre
Nunca chorou sozinha num banheiro sujo
Nem nunca quis ver a face de Deus
Já frequentei grandes festas
Nos endereços mais quentes
Tomei champanhe e cicuta
Com comentários inteligentes
Mais tristes que os de uma puta
No Barbarella às 15 pras 7
Reparou como os velhos
Vão perdendo a esperança
Com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo
E sabem que a vida é bela
Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo
E sabem que a vida é bela
Você nunca sonhou
Ser currada por animais
Nem transou com cadáveres?
Nunca traiu teu melhor amigo
Nem quis comer a tua mãe?
Só as mães são felizes...
Cazuza

Quando ouvi esta musica (em vinil, sinto saudades desta época, algo que o cd nunca o fará) eu tinha apenas nove anos de idade, e para mim ela quase passou batida, se não fosse o fato do linguajar dela... Mas até então nunca me importei, para mim era apenas mais uma música a ser ouvida e cantada ao longo dos anos. Quando começou o meu contato com a literatura européia e com a música verdadeiramente Under (e não algumas merdas que fazem questão de afirmar, mas isso é outra discussão), Conheci então Lou Reed, e me lembrei da letra (na época internet era apenas uma coisa meio distante ainda em comparação em como ela é hoje), sai de loja em loja a procura do album para copiar a letra, e na época eu era video boy (Como adorava me definir minha saudosa amiga Carol), e o Christian (outro amigo que seguiu rumos diferentes para a vida e esta por ai , casado e pai de familia) me emprestou o cd, junto com ele me veio umas cópias em VHS dos shows do Velvet UnderGround, Lou Reed, Iggy Pop, Jefferson Airplaine, e livros, Allen Ginsberg, Rimbaud, Alberto Caeiro, Augusto dos Anjos e outros... Levei um ano digerindo as muitas informações.
É quando então me pergunto por que as pessoas persistem em viver na escuridão intelectual? Tudo bem que gosto é algo deveras particular e cada um possui o teu, mas,... deixa quieto.
Eu sou feliz de ter aprendido muita coisa mesmo com os amigos que passaram ao longo de minha vida, os que ai estão, pois antes eu imaginave que eu os escolhia, quando na verdade eles me escolhem...
Eu tenho até pavor de pensar o que seria de minha pessoa se gostasse de pagode, sertanejo, axé, domingão do Faustão, Gugu, Silvio Santos, ...

14 abril 2009

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu
pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu...
viu outra lua no mar...

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...

Queria subir ao céu...
Queria descer ao mar...
E no desvairo seu, na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu...
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu as asas para voar.
Queria a lua do céu...
Queria a lua do mar...
As asas que deus lhe deu ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu...
Seu corpo desceu ao mar...
(Alphonsus de Guimaraens)
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Alphonsus de Guimaraens (Afonso Henriques da Costa Guimaraens), nasceu em Ouro Preto (MG), em 1870 e faleceu em Mariana (MG), em 1921. Bacharelou-se em Direito, em 1894, em sua terra natal. Desde seus tempos de estudante colaborava nos jornais “Diário Mercantil”, “Comércio de São Paulo”, “Correio Paulistano”, “O Estado de S. Paulo” e “A Gazeta”. Em 1895 tornou-se promotor de Justiça em Conceição do Serro (MG) e, a partir de 1906, Juiz em Mariana (MG), de onde pouco sairia. Seu primeiro livro de poesia, Dona Mística, (1892/1894), foi publicado em 1899, ano em que também saiu o “Setenário das Dores de Nossa Senhora. Câmara Ardente”. Em 1902 publicou “Kiriale”, sob o pseudônimo de Alphonsus de Vimaraens. Sua “Obra Completa” foi publicada em 1960. Considerado um dos grandes nomes do Simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas brasileiros, Alphonsus de Guimaraens tratou em seus versos de amor, morte e religiosidade. A morte de sua noiva Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas.(fonte: Itaú Cultural)
Publicado no livro Pastoral aos crentes do amor e da morte: este poema, integrante da série "As Canções", foi incluído no livro “Os cem melhores poemas brasileiros do século”, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, pág. 45, uma seleção de Ítalo Moriconi.
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Ismália é um poema singelo, mas ao mesmo tempo fabuloso, me foi apresentado quando eu possuia uns treze anos, eu olhava para ele e não me via no texto, mas ele sempre me foi bem quisto, não sei por que eu sempre guardei esta porra...
Hoje eu descobri por que...

13 abril 2009

Bertrand Russel

Dos poucos livros que li de Bertrand Russel, filósofo inglês (Elogio ao Ócio e No que acredito), o seu pequeno ensaio me é deveras fabuloso, lógico que apesar do nome "No que acredito", ...não possui cunho religioso (se bem que foi este o intuito de quando o comprei)... o autor deixa bem claro em certa passagem do livro que as minhas vontades não podem se chocar com a minha realidade e com a realidade das demais pessoas, a realização de minhas vontades podem causar problemas as demais pessoas. Mas me pergunto: as demais pessoas pensam nisso ao fazerem certas mediocridades? O maldito me força e criar parametros me impelem a ser rigido mas ao mesmo tempo vulneravél, o de ser sincero e honesto com todas as pessoas, saber valorizar o ser e o individuo respeitar-lo, mesmo que este o acerte como se fosse um raio (profundo não? mas o disgranhento amarra mesmo a concepção moral), tudo bem, e dai? qual a vantagem de algo que o amarra de tal forma a ponto de viver vulneravél? simples... o desenvolvimento do individuo, é de tal forma fabuloso, que logo chega o instante em que, aquilo que o tornava fragil o torna forte...

10 abril 2009

Os Sonhos de Icaro

Apaguem as luzes
Acabou o espetáculo
Chamem o palhaço louco de volta para a jaula
La Belle de Jour não mais será transmitida na sessão da tarde
Mesmo ela estando lá...
Vá à luta meu caro
Séverine não é Messalina
Nem coração stop motion picture.
Bauhauss, Blues, Bier,
As horas são impiedosas
Entre um gole e outro
As escolhas...
Os pensamentos são como raios em noites sem estrelas
Sem amigos, sem músicas, sem ninguém...
Um silencio predomina
Uma Nona no quarto é tão sublime
Que quase se acredita em divindade ou no divino
Uma óde
Permite se sentir Ícaro outra vez, ou seria Fernão?
Pouco importa...
Um trago e as palavras fluem
As flores do campo são selvagens
Mas não machucam
Soltem o palhaço o espetáculo deve continuar
Troquemos o filme
Quero a minha amada imortal de volta
Anna Marie é mais bela
Voltarei a minha vida de notívago
Quero as mazelas da noite
Aonde sou compreendido
Sempre...



04 abril 2009

Plagiando um alguém qualquer...

De quando em quando me deparo com uma série de problemas que me são curiosos, questionamentos de vários tipos, mas tudo bem. Esta semana eu me deparei com situações que me deixaram mias do que cabisbaixo, assim como houve um evento que me deu alegria (alegria esta suplantada pelo amargor dos problemas)... Seguindo adiante com o blá blá blá!
Uma das coisas que mais aprendi na vida foi a de valorizar os amigos, mas há algo que agora estou aprendendo, a de que tenho de comprar antiofídicos, ou ser sócio do butantã... Mas vamos em frente. E nesta sexta feira eu tive provas de amizade de um sujeito que por conta de relacionamento tortuoso meu pagou o pato, mas consegui resolver os problemas com o memso e reatar a amizade e de lambuja ganhei a amizade da irmã mais velha e do pai! Porém tambem descobri que não podia confiar tanto assim em outros... Deixe quieto, sigo em frente. O interessante é que perco de um lado consigo ganhar de outro, mas, vejo que, não estou errado em assumir uma postura mais radical... Tenho um faro maravilhoso para encrencas, e mesmo assim vou lá meter o bedelho, só para ver o tamanho da merda que vai sair. "Macaco velho não mete mão em cumbuca", besunto a minha com manteiga e mando ver.
Lendo um livro meio que por alto do Charles Bukowski (aliás, maravilhoso escritor) me vi em alguns escritos dele, não que eu seja um puto como os descritos, mas, em alguns caracteres de personalidade mesmo... Atos e Consequências tudo é realizado sem se importar com as merdas que vão ocorrer se for o caso... faço assim mesmo as vezes. Até quando não sei.


E descubro que sou envenenado na mesma medida de minha confiança...
Amigos sao amigos... o resto é conversa fiada mesmo!
Morrerei como os personagens de Bukwski!

02 abril 2009

O Câo Andaluz

um cão andaluz - un chien andalou - 1929 . FR . 16’
realização - Luis Buñuel
argumento - Salvador Dalí/Luis Buñuel
produção - Luis Buñuel
edição - Luis Buñuel
com
Simonne Mareuil
Pierre Batchef
Luis Buñuel
Salvador Dalí



> Un Chien Andalou, como exercício de estilo e de forma, é um cinema apontado aos sentidos. Mais sensual que cultural, onde a razão e a lógica cedem à emoção e às paixões, onde os demónios se libertam e onde o sonho e o pesadelo acontecem.

É este o percurso proposto pela articulação dos planos cinematográficos de Un Chien Andalou que, deliberadamente, violaram todas as regras de construção lógica da narrativa (sobretudo através do recurso aos então canónicos intertítulos que, neste filme em nada contribuem para a continuidade narrativa, pelo contrário, destroem-na).
Num objecto filme, feito de planos que não obedecem a qualquer lógica de continuidade
narrativa, qualquer sentido só pode ser encontrado no ecrã interior de cada espectador.

As imagens preenchem a grande tela da nossa mente, uma tela que tem a particularidade de ser reactiva. Cada jacto de luz é apontado como imagem choque para
provocar um sobressalto interior. Um despertador irritante que não se cala até fazer acordar os fantasmas adormecidos no imenso leito do nosso inconsciente.

Como imagens de catarse, capazes de expulsar, do mais escuro recanto do armário da nossa memória, os fantasmas criados pela hipocrisia da cultura institucional, burguesa, social, normativa, hierarquizada, militarizada, eclesiástica, escolástica, arregimentada, CULPABILIZADA.

Como disse Jean Vigo, a propósito de Un Chien Andalou, e depois de ter visto a célebre cena inicial, este filme deve ser visto com um olho diferente.
Como experienciação anti-social e amoral em si mesma e, por isso, profundamente reveladora dos males sociais e morais que nos afligem ao entranharem-se no mais profundo do ser individual.

Un Chien Andalou é, como proposta e provocação, um cinema libertário e de libertação. Por isso, disse Eisenstein ao ver o filme na Suiça, em Agosto de
1929, que Un Chien Andalou expunha com clareza a enorme extensão da desintegração da consciência burguesa.

Teatro da crueldade para contracenar com um mundo estigmatizado pelos horrores de dois conflitos mundiais que nos obrigam a descobrir os elevados níveis de irracionalidade a que pode chegar o género humano.

Com esta visão sombria do estado global da grande nação burguesa o humor só pode ser negro e corrosivo. Assim se explicam algumas das obsessões de um Buñuel desconcertante que afirma “As pessoas são imbecis mas a vida é divertidíssima!”.

E foi deste modo, divertido, que o cineasta espanhol terá compreendido a homenagem
que os seus conterrâneos de Calanda, em Aragão, lhe quiseram prestar ao atribuir, solenemente, o nome de Buñuel a uma rua da localidade. Diz Buñuel que, quando em pequeno aí morava, se divertia a chamar “Calle de la mierda” a essa mesma rua.

Un Chien Andalou é a provocação que nos obriga a sentir que ainda estamos vivos. Como
experienciação individual não partilhável, não comunicável, mas profundamente sentida – visceral, intestina e profundamente sensual (não é por acaso que Buñuel escolhe um Tango, na versão musicada dos anos 60, para conseguir ampliar a representação simbólica do desejo).

Ora, é precisamente nesta dimensão de apelo aos sentidos que se insere o trabalho de Victor Afonso. A banda sonora original, que as imagens de Buñuel lhe suscitaram, surge como um resgate do espaço sonoro, como se aquelas imagens estivessem aprisionadas no território hegemónico do visível e pudessem finalmente respirar.
Victor Afonso alcança o ritmo natural da respiração dessas imagens. Respiração ora sobressaltada, intensa e ofegante; ora suspensa, contida e profunda.

Como proposta de respiração é algo que não se consegue ver separado desse corpo filme. Talvez por isso, muitos segmentos funcionem como uma amplificação do visível mais do que por dissonância, contraponto ou paradoxo (não foi por acaso que Buñuel escolheu Wagner para a versão musicada dos anos 60).
Victor Afonso consegue ainda explorar, através do som (e este é um dado novo que importa referir), a vertente humorística que sempre caracterizou os surrealistas. E fá-lo, uma vez mais, como amplificação do visível.

Mas, justamente, por este efeito de amplificação se actualiza o efeito de surpresa e de choque que era pretendido pela dupla Luís Buñuel / Salvador Dali.
É urgente, também agora, acordar a consciência das pessoas gritando-lhes aos sentidos. Porque, de facto, o olho diferente de que falava Jean Vigo parece ter adquirido uma espécie de estigmatismo irrecuperável depois dos horrores e atrocidades de guerras: mundiais, regionais, cirúrgicas...
Cataratas de insensibilidade ajudaram a construir uma carapaça de total indiferença.
Já nada nos consegue chocar?

texto retirado de http://www.labcom.ubi.pt/cinubiteca/pdf/planocorte06.pdf

01 abril 2009

O Sétimo Selo - Ingmar Bergman



O Diretor
Ernest Ingmar Bergman nasceu em Uppsala, na Suécia, em 1918. Filho de um pastor luterano, teve uma infância rígida, marcada por castigos psicológicos e corporais, temas freqüentes em seus trabalhos. Começou a fazer e dirigir teatro ainda adolescente. Tornou-se famoso como roteirista na Suécia, escrevia para os maiores cineastas da época, e, com Sorrisos de Uma Noite de Amor fez seu nome como diretor de cinema, mas foi com O Sétimo Selo que ganhou fama internacional. Foi o principal responsável pela recuperação, para o cinema sueco, do prestígio que este perdera na década de 20, com a partida de importantes cineastas para Hollywood. Fez um total de 54 filmes, 39 peças para o radio e 126 produções teatrais, onde seus temas principais eram Deus, a Morte, a vida, o amor, a solidão, o universo feminino e a incomunicabilidade entre casais, tema onde foi pioneiro no cinema. Tornou-se autor completo de seus filmes e renovou a linguagem cinematográfica. Seus primeiros filmes trazem com freqüência influências do naturalismo e do romantismo do cinema francês dos anos 30. Alguns chegaram a ser repelidos por causa do erotismo e expressionismo. E muito conhecido por seu domínio do metier, por seu conhecimento técnico de câmera, luzes, processos de montagem, criação de personagens e qualidade de celulóide e som. Sempre trabalhava com a mesma equipe técnica e de atores. Ganhou Oscar com os filmes A Fonte da Donzela e Fanny e Alexander. Depois do ultimo deixou a direção de cinema, mas nunca abandonou o Teatro, o rádio e sua carreira como roteirista. Hoje Bergman está com 83 anos e vive na ilha de Farö(Bergman morreu aos 89 anos, em 30/07/2007.), anunciou que irá voltar ao cinema como diretor neste ano e seu próximo filme será Anna, uma história sobre a Vida, a Morte e o Amor.
Da peça ao filme
Bergman dava aulas na Escola de Teatro de Malmö, em 1955. Procurava uma peça para encenar para alguns jovens. Acreditava que essa era a melhor maneira de ensinar. Nada encontrou e então resolveu escrever ele mesmo, dando o titulo de Uma pintura em madeira. Era um exercício simples e consistia num certo numero de monólogos, menos uma parte. Um dos alunos se preparava para o setor de comédia musical, tinha uma aparência muito boa e ótima voz quando cantava, mas quando falava era uma catástrofe, ficando com o papel de mudo, e ele era o cavaleiro. Trabalhou bastante com seus alunos e montou a peça. Ocorreu-lhe um dia que deveria fazer um filme da peça e tudo aconteceu naturalmente. Estava hospitalizado no Karolinska, em Estocolmo, o estomago não estava muito bom, e escreveu o roteiro, passando o script para o Svensk Film Industri, que não foi aceito, e só quando veio o sucesso Sorrisos de uma noite de amor (filme que recebeu um premio importante no festival de Cannes) que Ingmar obteve permissão para filmá-lo. Bergman disse em uma entrevista "Foi baratissimo e muito simples", mas na biografia critica de Peter Cowie, a origem de O Sétimo Selo é tratada de modo a aparecer um pouco menos simples. Cowie fornece mais pormenores do que Bergman sugere, diz, que a peça original é um ato para dez estudantes, entre eles Gunnar Bjornstrand, e foi levada a cena pelo próprio Bergman em 1955. Mas a encenação que arrebatou a critica ocorreu em setembro do mesmo ano quando um outro elenco, que contava com a presença de Bibi Anderson dessa vez, representou no Teatro Dramático Real de Estocolmo, sob a direção de Bengt Ekerot (ator e diretor renomado que interpretou a Morte em O Sétimo Selo). Apenas alguns elementos foram aproveitados no roteiro final do filme: o medo da peste, a queima da feiticeira, a Dança da Morte. Mas a partida de xadrez entre a Morte e o Cavaleiro não havia, e, nem existia o artístico-bufanesco "santo casal" Jof e Mia com seu bebê. Somente Jons, o Escudeiro, não sofreu mudanças. Bergman retornou a Suécia, reescreveu o roteiro e reuniu a equipe. Deram-lhe trinta e cinco dias e um orçamento apertado, até minúsculo pelos padrões vigente no Reino Unido. Foram gastos cerca de 150 mil dólares e o diretor manteve-se dentro do cronograma e do orçamento. O filme foi feito em 1956 e estreou na Suécia em fevereiro de 1957.
Contexto Histórico
O século XIV, que é a época diegética de O Sétimo Selo, assinala o apogeu da crise do sistema feudal, representada pelo trinômio "guerra, peste e fome", que juntamente com a morte, compõem simbolicamente os "quatro cavaleiros do apocalipse" no final da Idade Média. Inicialmente, a decadência do feudalismo resulta de problemas estruturais, quando no século XI, a elevada densidade demográfica na Europa, determinou a necessidade de crescimento na produção de alimentos, levando os senhores feudais aumentarem a exploração sobre os servos, que iniciaram uma série de revoltas e fugas, agravando a crise já existente. As cruzadas entre os séculos XI e XIII representaram um outro revés para o sistema feudal, já que os seus objetivos mais imediatos não foram alcançados: Jerusalém não foi reconquistada pelos cristãos, o cristianismo não foi reunificado, e a crise feudal não foi sequer minimizada, já que a reabertura do mar Mediterrâneo promoveu o Renascimento Comercial e Urbano, que já contextualizam o "pré-capitalismo", na passagem da Idade Média para a Moderna. O trinômio "guerra, peste e fome", que marcou o século XIV, afetou tanto o feudalismo decadente, como o capitalismo nascente. A guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra devastou grande parte da Europa ocidental, enquanto que a "peste negra" eliminou cerca de 1/3 da população européia. A destruição dos campos, assolando plantações e rebanhos, trouxe a fome e a morte. Nesse contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, além do desenvolvimento do comércio monetário, notamos transformações sociais, com a projeção da burguesia, políticas com a formação das monarquias nacionais, culturais com o antropocentrismo e racionalismo renascentistas, e até religiosas com a Reforma Protestante e a Contra Reforma. O filme toca imaginativamente nesse mundo antigo, saturado de feiticeiras, cavalos, fome, peste e fé, depositando confiança em nossa imaginação.
O filme
Foi o décimo filme que Bergman dirigiu e é uma de suas poucas tramas não-realistas. O roteiro original se lê como peça de teatro e poderia, com alguns retoques, ser montada como tal. Não se encontra nenhum "Plano Geral", "Zoom" ou "Pan", nada de Exterior Dia Floresta; nem Interior Dia Taverna; é como uma peça, com relativamente poucas rubricas. Podemos encontrar muitas influências culturais tanto no filme como no próprio roteiro: o quadro dos dois acrobatas de Picasso; Carmina Burana de Carl Orff; A Saga dos Folkung e O Caminho de Damasco de Strindberg; os afrescos religiosos que Bergman viu na Igreja de Haskeborga. Houve apenas três dias de locação nas filmagens: a seqüência de abertura e as tomadas na encosta do morro. As condições atmosféricas, a locação e a luz eram perfeitas e não foi preciso repetir as tomadas. Foi um filme cheio de improvisações, a maior parte filmado nos estúdios, em Rasunda (Suécia). Bergman conta que em uma seqüência na floresta, olhando com muita atenção podemos ver as janelas envidraçadas de um bloco de apartamentos, e a torrente na floresta era o transbordamento de um cano solto que ameaçava inundar o local. A velocidade do andamento das cenas , como uma cena passa para a outra dizendo tudo o que precisa e encarando grandes e pequenas questões com a mesma seriedade, buscando o óbvio, fazem parte do mundo bergmaniano. A clareza dos diálogos, a maneira teatral como são utilizados, também fazem parte desse mundo. O Filme, assim como toda a obra do diretor no seu início, é considerado neo-expressionista. Os cenários são muito rústicos e simples, a maquiagem é impressionante, e muitas vezes os atores aparecem machucados, ou com dentes podres, desprovidos de qualquer regra de higiene atuais, o que dá mais realismo ao filme. O Sétimo Selo foi dedicado a Bibi Andersson e ela, assim como Max Von Sydon, Erland Josephson, Ingrid Thulin, Liv Ullman, Harriet Anderson e Gunnar Bjosrnstrand, que começaram com ele no teatro, se tornaram para sempre "atores Bergmanianos" e seguiram carreiras internacionais. O título é uma referência ao capitulo oito do livro das revelações. A história é simples. Um Cavaleiro e seu Escudeiro voltam das Cruzadas. O país está assolado pela peste. Eles se encontram com a Morte e o Cavaleiro faz um trato com ela: enquanto conseguir contê-la numa partida de xadrez, sua vida será poupada. Na viagem pela terra natal, encontram artistas, fanáticos, ladrões, patifes, mas por toda parte a presença da Morte, empenhada em ganhar o jogo por meios lícitos e ilícitos. No fim, todos, menos os artistas, são arrebanhados por ela. Intelectualmente a trama do filme é entrecida com dois: o da busca, pelo Cavaleiro já desesperado, de alguma prova, alguma confirmação de sua fé, e o da atitude do Escudeiro, para quem não existi nada, para além do corpo em carne e osso, senão o vazio. O filme articulou perguntas que não se atrevia fazer: quais eram os sinais verdadeiros de que existia um Deus? Onde estava o testemunho coerente de qualquer benevolência divina? Qual era o propósito da oração? A dúvida do Cavaleiro, sua determinação de se apegar aos exercícios exteriores da crença quando o credo interiro estava esmigalhado coincidia com a situação de muitos. Mostrou com uma visão simples e totalmente moderna para a época, o relacionamento de Deus com o Homem. A natureza religiosa da obra de Bergman se manifesta de imediato no filme. Em uma entrevista declarou que utilizava seus filmes para encarar seus temores pessoais, disse ele: "Tenho medo da maior parte das coisas dessa vida" e "Depois daquele filme ainda penso na morte, mas não é mais uma obsessão", e em O Sétimo Selo ele enfrentou o seu medo da morte. A Morte está presente todo o tempo, e cada um reage de maneira diferente a ela. Deus e a Morte são os grandes pilares do filme, e em grau menor, mas essencial, mostra seus sentimentos sobre o Amor e a Arte. A tela destinava-se ao divertimento, quem estivesse em busca da verdadeira substância do pensamento abria um livro. Bergman botou isso de pernas para o ar nesse filme, mostrando um cinema não somente para a diversão, mas também para a reflexão. As pessoas são geralmente muito sérias acerca do que o diretor considera serem questões sérias: Amor, Morte, Religião, Arte. Sua resoluta preocupação com assuntos sérios, mesmo em suas poucas comédias, o distingue e talvez explique porque em certo sentido ele saiu de moda. Ele insiste em enfrentar o todo da vida com seriedade, aborda o total da existência e o que está acima dela, junto com sua religiosidade, transformando-o num estrangeiro de um mundo pós-moderno e em maior parte descrente. O senso de Humor aparece, às vezes sutil e às vezes mais ostensivo como quando a Morte serra árvore para levar o artista, é a cena mais engraçada do filme. Finamente bem humorado - sobre desafios, negociações e as eternas dúvidas e curiosidades em torno de questões metafísicas que atormentaram, atormentam e atormentarão o ser humano. Acredito que Bergman está presente no filme na angústia do cavaleiro que vê sua vida destituída de sentido, e também no ateísmo de seu fiel amigo Escudeiro.
O encontro com a Morte
A cena de abertura dá o tom: antes de qualquer imagem a música Dies Irae começa solene. A tela se ilumina, uma nuvem esbranquiçada que se não estivesse ali deixaria tudo cinza e turbulento. O coro interrompe no corte: uma dramática reelaboração da música de Dies Irae. Uma ave aparece pairando quase imóvel no céu, e o pink noise (silêncio), que é muito usado nos filmes de Bergman, dá ainda mais suspense. Outro corte mostra uma praia pedregosa e uma voz calma e suave lê um trecho do apocalipse, ouve-se o barulho das ondas batendo nas pedras. O Cavaleiro descansa sobre as pedras e um plano mais fechado nos leva para mais perto da ação: tem um tabuleiro de xadrez ao seu lado, e ele segura uma espada na mão. O Escudeiro também dorme e seu amigo abre os olhos e observa o céu. O dia está nascendo e Antonius se levanta para lavar o rosto. Logo após ajoelha sobre as pedras e faz uma oração, num intenso plano americano, mas seus lábios não se mexem, talvez não saiba mais rezar. Ele vai até o tabuleiro de xadrez, onde as peças já estão montadas, o silêncio traz uma figura parecida com um monge, um fantasma. O Cavaleiro arruma uma sacola e vê aquela figura. Começam a dialogar (uso de planos gerais): "Quem é você?", "Eu sou a morte". E a morte aparece como um homem, uma presença. Segundo Bergman "Essa é a fascinação do palco e do cinema. Se você pega uma cadeira perfeitamente normal e diz "Eis a cadeira mais cara, fantástica e maravilhosa já feita em todo o mundo", se você diz isso, todos acreditam. Se o Cavaleiro diz "Você é a Morte", você acredita nisso" . Em outro plano a Morte abre seu manto a fim de levar o Cavaleiro, sua pele é muita branca e a "música medieval" impulsiona a ação. Após o trato sentam-se para jogar xadrez. Antonius parece estar muito calmo diante da tão aterrorizante Morte. Há até um pouco de ironia quando as peças negras são sorteadas para serem jogadas pela morte, que diz para o Cavaleiro, "Bem apropriado não acha?". A imagem se dissolve e vemos Antonius numa igreja, olhando uma imagem de Jesus Cristo. Seu rosto, e o talento naturalmente, mas a seriedade e a capacidade também de serenidade desse ator valorizam o filme. É um rosto pensante, a procura de um entendimento da vida, uma indagação antiga, às vezes banal que nos convence. Seus momentos de extrema emoção são quando geralmente ele se vê só, salvo, talvez, por Deus. As sombras aparecem muito, há muito contraste de claro e escuro e os closes nos personagens são muito usados. Bergman usava muito o close-up porque acreditava que eles mostravam muito da personalidade dos personagens. O sino da igreja toca sem parar, a imagem de Cristo aparece novamente, mas não é uma imagem comum, parece deformada e sofredora. O Cavaleiro revela sua fé, sua busca. As imagens que estão por perto dele são difíceis de identificar por causa da sombra. Ele confessa esperar o conhecimento da vida, e nós vemos, entre as grades do confessionário que a Morte é quem o ouve. Ela não quer ser reconhecida e nos mostra suas más intenções. O sino cessa e eles continuam a falar de Deus e agora da Morte. Antonius está nervoso, revela sua estratégia para vencer a Morte e mostra todo seu desespero e sua surpresa ao ver que ela o enganou. Um primeiro plano mostra a expressão de seus rostos. As sombras e a escuridão tomam conta de quase toda a tela, e vemos apenas o vulto dos personagens e as grades do confessionário. A Morte vai embora, e ele observa sua mão, o sangue que pulsa nela. Antonius Block se apresenta para os espectadores junto com sua fé, coragem e satisfação, talvez até orgulho de jogar xadrez com a Morte.
Os flagelantes
A cena com os flagelantes é maravilhosa. Começa com a apresentação dos artistas, numa inocente maneira de divertir o público do vilarejo. Eles dançam, cantam, brincam, tocam instrumentos quando a música entra, dando um clima de terror a cena. É um contraste ver a alegria dos artistas seguidas de tanta dor, culpa, desespero e fé dos torturadores: "Eles acreditam que a peste é um castigo de Deus por eles serem pecadores". Os olhos de Jof e Mia se enchem de espanto, assim como a de todas as pessoas que vêem a procissão. A música é apavorante. Eles passam por uma porteira carregando Imagens e Cruzes. Pessoas deficientes, muito magras e idosas impressionam. Estão vestidos como monges, com roupas esfarrapadas, se ouve os gritos e o barulho dos chicotes. Os closes aparecem freqüentemente mostrando o espanto das pessoas que vêem os flagelantes passar. Essa cena foi feita em um só dia, os extras foram feitos em clinicas geriátricas da cidade.
A dança da Morte
Após todos serem arrebanhados pela Morte, o plano que segue é o de Mia, olhando para o céu com seu filho Mickael e Jof ao seu lado, dentro da carroça. Ela acorda o marido e se vêem a salvo. O céu está claro e a cena é a mais iluminada do filme. Eles parecem felizes, os pássaros cantam e, saindo da barraca, jof observa a montanha. Sua expressão é de espanto ao ver todos eles, o ferreiro e lisa, o Cavaleiro, Raval, Jons e Skat, na mais famosa cena do filme, a Dança da Morte. A imagem do ator se difundi com a da dança. "Dançam rumo a escuridão e a chuva cai nos seus rostos", "No céu tempestuoso", diz Jof. A trilha impressiona. "Você e suas fantasias" diz Mia sorrindo, acredita que tudo não passa da imaginação de Jof. Eles vão embora por uma trilha da encosta, os pássaros voltam a cantar e a música agora transmite paz e alegria. Essa cena foi feita com muita improvisação, tão em cima da hora que um dos atores (o ferreiro) precisou de um dublê. As condições do tempo eram perfeitas e Bergman não precisou repetir a tomada


Por Cibele Carvalho Quinelo