26 maio 2009

Alta Fidelidade

Eu sei que faltei em certas aulas na escola, elas seriam valorosas hoje, eu sei que falo o que nao deve, escrevo o que não se deve, falo de religião, politica, mulher, sexo, drogas e mais o que me vier a mente para cutucar o vespeiro (parece sadismo, mas não é). O titulo se refere a um dos meus filmes favoritos (por que será?) Alta Fidelidade, mas não estou interessando em falar nele, só peguei o nome mesmo emprestado. 

Vinicius disse: Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
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Na Wikipédia está assim:

Fidelidade (do latim fidelitas pelo latim vulgar fidelitate) é o atributo ou a qualidade de quem ou do que é fiel (do latim fidelis), para significar quem ou o que conserva, mantém ou preserva suas características originais, ou quem ou o que mantém-se fiel à referência.

Fidelidade implica confiança e vice-versa, e essa relação de implicação mútua aplica-se quer entre dois indivíduos, quer entre determinado sujeito e o objeto sob sua consideração, que, a seu turno, também pode ser abstrato ou concreto. Essa co-significação originária mostra-se plena quando se trata de dois sujeitos, ambos com capacidade ativa, pois, nesse caso se pode invocar o correlato confiança (do latim cum, "com" e fides, "fé").

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Apesar de gostar do velho Vinicius, concordo com a Wiki, por hora apenas.

Não adianta perguntar por que, responder agora iria transformar isso aqui em uma nova biblia (Segundo o Gabiru estou ficando bom em fazer novas biblias, por conta do tamanho dos posts), o que posso dizer é que realmente o confiar exige-se muito, mais ainda quando as pessoas são por sinstesistas (sim sou meio etéreo), mas como confiar se não confiam em voce? como haver reciprocidade? Deixa quieto. O divertido da coisa é quando tudo está em pé de igualdade. 

 Mas vamos em frente...  A situação toda é mais complicado do que se imagina, e fidelidade é algo tão relativo, e se alguem falar que não, é puto canalha que apronta pelas costas. Ou acreditam que só devem fidelidade ao companheiro de teto(namorada, noiva, esposa)? E os amigos? E a você mesmo? Mas dane-se se não consegue ser fiel (Corinthians minha Vida, minha História, meu Amor, se nao entenderam o porque problema de vocês) a seus preceitos, desista então de algo fora desta esfera. Creio que o mais dificil é você ser fiel a fatos que ainda estão por vir, abraçar uma ideia, abraçar um sonho e lutar, esta é uma das formas ser, estou com tantos passos dados, tantas propostas que vão depender de minha força, pessoas que dependem de capacidade como amigo, e, algo mais (só uma pessoa está nesta situação em relação a minha)...  de resto estou sossegado. Mesmo assim devo admitir que de todos os defeitos que possuo (se alguem relatar um deles aqui vai ter), o único que não se pode reclamar á minha sinceridade com os que me cercam.

Seguindo em frente... queria mesmo era sossegar, saber que não preciso me preocupar, mesmo sendo gato escaldado. Resposta mesmo não sei se as terei.

Dedicado para quem é de direito

Ileniel Nunes


25 maio 2009

Distimia o Caralho!

Veja quais são os sinais do mau humor crônico

Apetite: a pessoa alimenta-se pouco e sem prazer ou come com muita ansiedade
Desinteresse: tudo é feito por obrigação, nada gera prazer. Em geral, a pessoa tem uma dificuldade muito grande para finalizar projetos
Distúrbios do sono: a pessoa pode tanto dormir demais como ter insônia. Acorda à noite com freqüência e costuma madrugar
Fadiga crônica: o cansaço é predominante e a realização das atividades leva mais tempo que o necessário devido também à insatisfação
Irritabilidade: esse estado é constante e pode chegar à agressividade
Isolamento: preferência pela solidão com o objetivo de não se irritar com os outros
Pessimismo: é incapaz de enxergar o lado positivo da forma de ser dos outros ou das situações, o que leva a pessoa a manter-se cabisbaixa, com ar deprimido
Tristeza: o sentimento de infelicidade domina quase todo o tempo do sujeito

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Vamos lá:
1° Como feito um cavalo.
2º Não sou desinteressado, do contrário, tenho de aprender é a cuidar de minha vida e me preocupar menos com a dos outros, por que o mundo caga e anda para a minha pessoa.
3º No tocante sono vou dar o braço a torcer.
4º Fádiga? ando de saco cheio sim, mas fadiga não.
5º A coisa mais simples do mundo me irritar... mas e dai? Ja caguei mesmo no dia, então foda-se o resto!
6º Isolamento? Ao acaso me pareço com fio de eletrecidade para viver isolado? Concordo que procuro (sem exito) fazer isso.
7º Pessimista é a puta que os pariu!
8º Tristeza? ... prefiro nada comentar.
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 No minimo estão a se perguntar por que cargas d'água escrevo isso, bom isso é fácil... Até mesmo por que o dia já me começou do avesso... arrumei briga com quem não devia, e tudo por que sou um mal humorado de plantão sim, e sim, é uma parte de minha personalidade, ser rabugento, chato, e pouco sociavél.  E sei que por diversas vezes eu extrapolo... Mas ao ponto de alguem falar que sou um doente?  Cainhãim! E por favor sem esta de é carência afetivo e o diabo a quatro... O que ocorre é que as pessoas as vezes não aceitam o mal humorado de platão como ele realmente é, as pessoas muitas vezes não possuem o tato de observar antes de soltar os cachorros em cima, só resta virar lama mesmo o depois. E não vou ser cínico e dizer que estou me policiando, quero me controlar e blá blá... Mentira! Por ser como o sou, eu observo bem a situação antes de falar algo que vá deixar a coisa complicada... Será que é por que é o que eu gostaria que o fizessem comigo? pode ser! 
 Mas o duro é quando a merda já foi feita, só me resta sentar e esperar mesmo, até por que as vezes piora... e não haverá só um mal humorado, mas dois. Que maravilha!
 Porem o mal humorado tem as suas vantagens, (por favor não confunda mal humorado com quem não consegue ver um palmo adiante e só reclama da vida, este deveria se matar e reclamar com o criador dele...) consegue-se por deveras vezes observar e atentar-se a detalhes que a maior parte das pessoas não o fazem, porque elas são "descoladas", sempre de bem com a vida, eu sei nada justifica... Mas venhamos e convenhos, cada um tem o seu jeito de ser, e o meu é ser assim! 

21 maio 2009

Paiê, me dá sua cadeira de conselheiro?

Por Adriana Vandoni
 
Não sei como são os TCEs do Brasil afora, mas o de Mato Grosso sagrou-se nesta quarta-feira a mais grotesca instituição de deboche à população. Gozação, não existe outra forma para definir o TCE de Mato Grosso. Há uma semana uma auditoria na Câmara de Cuiabá revelou que as contas analisadas e aprovadas em dezembro pelo TCE tinham um rombo de pelo menos R$ 3 milhões. Agora um conselheiro se aposenta e transfere sua vaga para seu filho. Assim, hereditariamente, como se fosse um patrimônio da família.
 
Tudo aprovado pela assembléia, claro. Bem, mas a assembléia de Mato Grosso há tempos deixou de ser um lugar de pessoas sérias. Com apenas um voto contrário, Campos Neto foi “aprovado” na calada da noite pelos seus iguais para ocupar a cadeira vitalícia e hereditária no tribunal de contas de Mato Grosso.
 
O novo conselheiro do Tribunal de Contas do estado de Mato Grosso, deputado Campos Neto, é um “garotão” que faz sucesso em colunas sociais e leva ao delírio as jovens eleitoras da periferia de Várzea Grande, cidade vizinha da capital. Um jovem deputado que em dois mandatos produziu um histórico de trabalho que compreende na transformação sete ONGs em Ocips, mudança do nome de três avenidas e a criação do dia Estadual de Limpeza de Nascentes.
 
É bem verdade que se comparado com o que entrou antes dele, pelo menos este, apesar da pouca utilidade, não é chamado de ladrão pelo ministério público. Imagine só, um acusado de ter roubado dinheiro público, “julga” possíveis desvios do dinheiro público cometidos por outros. Não é de se admirar que não tenha percebido o desvio de R$ 3 milhões da Câmara de Cuiabá. Pode ser levada a sério esta instituição fiscalizadora?
 
Então palmas para o novo conselheiro, para a assembléia e para o TCE de MT, que dá um passo a mais para a sua gloriosa desmoralização. Meses atrás fui convidada para o lançamento de um novo portal da instituição onde, dizia-se, a transparência seria total. Pois é, hoje vejo quanto dinheiro jogado fora na implementação de tão sofisticada tecnologia, quando a conta lá ainda é à base de caderneta. Uma mera legitimadora da corrupção alheia. É nisso que está se transformando, de forma patética, o Tribunal de Contas de Mato Grosso, a ponto de sentirmos saudade do tempo em que era apenas um depósito de políticos em fim de carreira.
 
Será que não é chegada a hora de repensarmos a utilidade dos Tribunais de Contas? De colocarmos na ponta do lápis quanto custa ao povo bancar toda aquela estrutura nababesca se nem fiscalizar o dinheiro público, que é sua função, faz?
Sei que há na instituição pessoas sérias, mas é bom que saibam que a omissão crônica os transforma em cúmplices dessa palhaçada, desse deboche à inteligência alheia.
 
extraído de: http://www.paginado e.com.br/ home/post/ 3019

15 maio 2009

Nem sempre novidades me são bem vindo!

 Certa feita conversando com o meu amigo Japones sobre livros e autores ele ficou me apurrinhando a ideia com Proust, eu lhe disse que não tenho paciencia para ler Marcel, uma vez que eu já sou saudosista por natureza... e dando uma olhada nas minhas coisas, livros, orkut, cds, livros, fotos, blá blá blá, foi sinistra a conclusão... Não sou nem um pouco adepto a novidades, fotos: Rarissimas vezes alguem pode falar que viu uma foto minha recente, estou a resolver isso. Livros: nao abro maos mesmo de ler coisas boas, o sujeito pode ter escrito aquilo dez mil anos atraz, mas na boa, ler Paulo Coelho, Lia Luft, e outros é de cair o cú da bunda! Existem sim alguns novos que me são mais que bem quistos, eu leio, quando o livro fica com mais de dois anos... Músicas: hahahaha! Agora vai começar a sessão xingo... Só tem merda, verdadeiras bostas auditivas... está certo que gosto é igual anus, cada um temo seu e por ai vai, mas eu mesmo perdi esta aula na escola, ou ela nunca foi ministrada, foda-se, lixo é lixo! Tá! Beleza... o respeito em pról dos amigos que se deixam vencer e acreditar nestas balelas que em nada acrescem o individuo. Já disse a unica parte legal nisso tudo é ver as bundas que rebolam de forma frenética, coloco o volume da tv no zero, e me arrisco a ver (sei la se estas porcarias corrompem só de olhar)... Sinto muito, certos itens de meu gosto reconheço serem de doer a alma e fazer qualquer um em dominio de sua consciencia ficar maluco, mas e dai? Quem não quer ver estrela que nao olhe para o céu... Mas é por estas exclamações nada sutis que não sou de ficar apregoado nas novidades culturais. Não, não esqueci do cinema... apenas me deu preguiça de ficar falando mal de tanta porcaria, mas é curioso isso... Ontem eu em uma frustada tentativa de tirar sarro do meu amigo Ivo (alias nunca consegui debochar do sujeito, ele é mais rapido que eu, puta que me pariu), estava a sacanear o filme novo de Sylvester Stallonedisse a ele que seria a maior canalhice cinematográfica... o fdp sem pestanejar me solta uma: " velho, são herois da infância, imagina ver eles naquela época todos juntos? Iria ser o máximo, por isso vale apena sim ir no cinema ver eles todos juntos." Sem graça só restou concordar e dizer que não havia analisado por esta ótica. O duro é ver que se está ficando velho saudosista e não são muitas as novidades que te apetece.... Meu medo é um dia (se a humanidade estiver pronta, e claro e eu conseguir arrumar uma esposa) ver meu filho falar que estas coisas minhas são lixo... Ou voces pensam que não desco a bordoada em certos itens que a velharada me mostra, e aidna falo na lata que é por isso esta geração é corrompida... os cara se alegravam vendo a Gretchem rebolando nos programas de tv.
 Mas o legal mesmo é que apesar de minha sacanagem extrema com quase tudo (sou assim mesmo, posso até gostar, mas eu adoro ver o circo pegar fogo, falo mal mesmo), é saber que tenho memórias e meus amigos em sua maioria tambem, e assim podemos sempre ter umas discussoes para la de controversas, com muita cervejas e risos!!!
 

Obs: Dúvido que alguem leia isso, entenda o resmungo, e vá comentar... eu mesmo mandava isso tudo a puta que pariu!

 Ileniel Nunes
















 Detalhe o Neto Gabiru não gosta desta foto, só por que um dia eu disse a ele que ele era o pernalonga... 

10 maio 2009

Charles Bokowski


Os 25 melhores poemas de Charles Bukowski foi um dos últimos trabalhos de Jorge Wanderley. É um bom livro. Lendo-o, impressiona por manter em português o mais característico da obra de Bukowski: a informalidade, o aparente desleixo de linguagem, o registro baixo que emerge de súbito e salta à cara do leitor, bem como o imprevisto lirismo que surpreende com o sinal oposto. Principalmente, ressalta o difícil equilíbrio desses registros, a combinação própria, que dá o sabor específico da poesia e também da melhor prosa de Bukowski.

Há muitas maneiras de avaliar uma tradução. E há mesmo, sobre tradução, muito debate e acirradas divisões em vertentes teóricas. E, como muitas vezes acontece, essas discussões alimentam não apenas revistas especializadas, mas ainda podem ramificar-se em importantes divisões acadêmicas que, em casos extremos, fundam, fendem ou fundem departamentos inteiros.

Sem querer disputar com os especialistas nem o jargão, nem a base de fundamentos ou de crenças, muito particularmente julgo que uma boa tradução é aquela que mais prescinde do original. Aquela na qual o tradutor encontra uma forma de dizer que basta por si mesma.

É claro que um bom livro de poemas traduzidos deve trazer, lado a lado, o texto de base e o texto traduzido. Isso funciona mais ou menos como uma garantia, um gesto de confiança e de generosidade. O leitor pode comparar, pode ler verso a verso em uma e outra língua, pode ler aos blocos, poemas inteiros, em sucessão. Se gostar da tradução, fica com ela; se não gostar, sempre tem ao lado o texto na língua em que foi primeiramente escrito.

Mas o que me parece o triunfo do tradutor é aquele momento no qual, depois de conferir, meio desconfiado, alguns tantos versos e poemas, e percebendo a propriedade ou a coerência das escolhas, o leitor percorre apenas o texto na sua própria língua, para ver como soa aquele poeta na língua que não era dele, mas que é a do leitor. Para ler, afinal, uma interpretação.

Nesse sentido, é uma alegria, para os amantes do velho Hank, tê-lo assim tão carinhosamente vertido para o português (e charmosamente editado, da capa ao miolo).

É certo que um exame atento pode levar a concluir que o Bukowski-Wanderley é mais homogêneo em termos de linguagem. Os coloquialismos e a imitação de linguagem oral, presente em vários versos dos poemas escolhidos, acabam recebendo uma veste mais padronizada. Não há violência lingüística, nos textos de Wanderley. E em alguns momentos, a impressão é a de que a linguagem de Bukowski sofre mesmo alguma elevação de tom.

No geral, porém, a operação de leitura é coerente e produz um texto harmônico. Dá-se algo parecido a uma canção, quando é transposta de tom. A mudança é sensível na modulação, mas o resultado conserva o desenho das frases, e o conjunto soa bem.

Os pontos que poderiam ser objeto de maior reparo são poucos. Há algumas rimas a mais, o que dá ao texto às vezes um caráter bastante diferente do que tem em inglês. O caso mais notável é o da tradução destes versos: "I cannot rhyme./I am too tired to/ steal". Em português, ficou assim: "não sei rimar./estou cansado demais para/roubar". Se a assonância rhyme/tired encontrou equivalente adequado em rimar/demais, a inclusão da palavra "roubar" torna o terceto uma contradição em termos, pois em português o poeta diz, rimando, que não sabe rimar... O que é o mesmo que dizer que na nossa língua temos um verso sarcástico, enquanto em inglês temos um verso apenas plano.

Há uma oscilação na hora de traduzir, ao longo do livro, algumas palavras repetidas. O caso mais flagrante é o de uma palavra cara ao poeta, whore. No poema "Entrevistado por um ganhador do Guggenheim", lemos "esse sul-americano ganhador de um Gugg/ entrou aqui com a prostituta dele"; logo abaixo, a mesma palavra já é traduzida por "puta", da mesma forma que no poema "Muito", onde lemos "é como uma cave, isso aqui:/cheia de morcegos e putas". Nos três casos, em inglês temos a mesma palavra. E a mim me parece claro que, no primeiro caso, a palavra deveria ser a mais chula, inclusive porque o ritmo ficaria mais adequado, pois em inglês o segundo verso é sensivelmente mais breve do que o primeiro; e em português, além de próximo da extensão do primeiro, resultou um verso de medida clássica, um sáfico, cujo efeito aqui parece pouco adequado.

É preciso considerar, na hora de fazer reparos, que as traduções talvez não tenham tido uma revisão final do autor. Uma última leitura talvez eliminasse, por exemplo, no belo "The last generation", o que me parece um problema na tradução do verso "many others broken in victory". Em português, ficou: "muitos outros falidos na vitória”". Como o título foi traduzido por "A geração falida", cria-se, a meu ver, um problema com a utilização do mesmo termo português para "last" e "broken", porque quem lesse o texto apenas em nossa língua tenderia a ler o verso acima como o centro de força do poema. O que não é verdade. Ao menos, não como seria se a palavra do título, que é um trocadilho com a denominação "lost generation", também aparecesse nesse verso, junto com a palavra "vitória". E, sem dúvida, uma releitura cuidadosa eliminaria uns poucos tropeços maiores, como o do verso "and she has been looking for a job", de "Conversa às três e meia da madrugada", que resultou num insustentável "e ela tem estado procurando emprego"...

Quanto à escolha dos poemas, dada a vastidão da obra poética de Bukowski, não posso dizer muito. Wanderley recolheu os poemas que traduziu de três livros: uma seleção dos melhores poemas, publicada pela primeira vez em 1960, uma coletânea da primeira parte da década de oitenta e o volume The Last Night of the Earth Poems, de 1992. Por certo, a apresentação de apenas 25 poemas sob esse título valorativo é uma aposta arriscada. Como todas as apostas das antologias, é certo. Mas aqui, dada a exígua dimensão do conjunto, o peso e o risco da seleção dos "melhores" parecem muito grandes.

Num prefácio comovido, que apresenta o sentido desse livro na vida de quem o traduziu, Márcia Cavendish Wanderley explicita o princípio e a opção: "Jorge Wanderley viu no bardo marginal uma reprodução de si próprio, dividido entre o permitido e o proibido, essa linha tênue que nos persegue em vida, condenando-nos ao banal ou elevando-nos ao epifânico".

É certo que quase tudo que li de Bukowski ressalta a epifania que brota da banalidade, da sujeira e do rebaixamento. Mas não em toda parte encontramos o momento de revelação do desejo de ternura, ainda que impossível, e a cedência ao humor como redenção parcial e afetiva, numa síntese precária. No mais das vezes, o texto de Bukowski cristaliza um momento de frustração absoluta, da entrega ao destino sem futuro nem elevação. 

Mas os termos da dicotomia formulada no prefácio são adequados para compreender o movimento desta antologia. E se existe um critério a orientar a seleção, sem dúvida ele consiste na busca de poemas que operam mais claramente essa elevação ao epifânico. E por poemas nos quais o tom sentimental tenha um lugar importante.

É uma escolha. E sendo uma escolha derradeira, esse conjunto de traduções que se publica, póstumo, se deixa ler como um testamento e como uma consolação.

Os 25 melhores poemas de Charles Bukowski.

Edição bilíngüe com tradução de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2003.

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O Gato e a Humanidade

“Havia um gatinho branco com as costas voltadas para um dos cantos do muro. Não podia subir pelos tijolos nem fugir em qualquer outra direção. Suas costas estavam arqueadas e ele bufava, as garras prontas. Era, no entanto, pequeno demais para dar conta do buldogue de Chuck, Barney, que rosnava e se aproximava mais e mais. Tive impressão de que aquele gato havia sido colocado ali pelos garotos e de que somente depois o buldogue fora levado até ali. Sentia isso intensamente pelo modo que Chuck e Eddie e Gene acompanhavam a cena: o aspecto deles os incriminava.

- Caras, vocês armaram essa – eu disse.

- Não – rebateu Chuck –, a culpa é do gato. Ele veio até aqui.

- Deixe que ele se vire agora para escapar.

- Odeio vocês, seus desgraçados – eu disse.

- Barney vai matar o gato – disse Gene.

- Barney vai fazer picadinho do bichano – disse Eddie. – Ele está com medo das unhas do gato, mas quando avançar estará tudo encerrado.

Barney era um buldogue grande e marrom com as bochechas flácidas e cheias de baba. Ele era gordo e meio abobalhado e tinhas olhos castanhos inexpressivos. Rosnava constantemente e ia avançando devagar, os pelos do pescoço e das costas eriçados. Eu sentia vontade de lhe dar um chute no seu rabo estúpido, mas percebi que ele arrancaria minha perna fora. O cão estava completamente tomado por um espírito assassino. O gato branco sequer tinha terminado de crescer. O bichinho soltava um silvo agudo e esperava, comprimido contra o muro, uma criatura belíssima, tão limpa.

O cachorro avançou lentamente. Por que esses caras precisavam disso? Não era uma questão de coragem, era apenas um jogo sujo. Onde estavam os adultos? Onde estavam as autoridades? Para me acusar de alguma coisa estavam sempre por perto. Onde tinham se enfiado agora?

Pensei em intervir na cena, apanhar o gato e sair correndo, mas eu não tinha forças. Tinha medo de que o buldogue me atacasse. A consciência de que me faltava coragem para fazer o que era necessário fez com que me sentisse péssimo. Comecei a ficar enjoado. Estava fraco. Eu não queria que aquilo acontecesse, ainda que eu não conseguisse encontrar nenhuma maneira de evitar o massacre.

- Chuck – eu disse –, deixe o gato ir, por favor. Chame seu cachorro.

Chuck não respondeu. Continuou apenas observando. Então disse:

- Vai, Barney, pegue ele! Pegue o gato!

Barney avançou e de súbito o gato deu um salto. O bicho se transformara numa furiosa mancha branca, toda silvos, garras e dentes. Barney recuou e o gato voltou novamente para o muro.

- Pegue ele, Barney – disse Chuck novamente.

- Cale a boca, maldito! – gritei para ele.

- Não fale comigo desse jeito – retrucou.

Barney começava a avançar novamente.

- Caras, vocês armaram tudo isso aqui – eu disse.

Ouvi um leve ruído atrás de nós e voltei a cabeça. Vi o velho sr. Gibson a nos observar de trás da janela de seu quarto. Ele também queria que o gato fosse morto, assim como os garotos. Por que?

O velho sr. Gibson era nosso carteiro. Usava dentadura. Tinha uma esposa que passava o tempo inteiro em casa. A sra. Gibson sempre usava uma rede sobre os cabelos e sempre trajava uma camisola, roupão de banho e chinelos.

Então apareceu a sra. Gibson, vestida como de costume, e se postou ao lado do marido, esperando pela carnificina. O velho sr. Gibson era um dos poucos que tinha um emprego, mas ainda assim ele precisava ver o gato morto. Gibson era como Chuck, Eddie e Gene.

Havia muitos deles.

O buldogue se aproximou. Eu não podia ver aquele crime. Senti uma vergonha profunda por abandonar o gato à própria sorte. Havia sempre a chance de que o bichano pudesse escapar, mas eu sabia que os garotos não deixariam isso acontecer. Aquele gato não enfrentava apenas o buldogue, ele enfrentava a humanidade inteira.

Dei meia-volta e me afastei, para fora do quintal, passando pela entrada do carro e chegando ã calçada. Caminhei em direção ao local onde eu morava e lá, no pátio em frente ã sua casa, meu pai estava plantado, me esperando.

- Onde você estava? – ele perguntou.

Não respondi.

- Já pra dentro – ele disse. – E pare de parecer tão infeliz ou lhe darei algo para que você realmente sinta o que é infelicidade!”

.

[Do livro “Ham on Rye” – Charles Bukowski (tradução de Pedro Gonzaga)]

.

Quando criança, passei por diversas situações semelhantes a essa, contada por Bukowski. E eu, garoto raquítico e chorão, não podia fazer nada para impedir as maldades dos outros garotos. Isso é apenas uma das dificuldades pelas quais passa um bom garoto que é obrigado a crescer numa cidade pequena, cheia de caipiras e selvagens. É possível que esta seja a razão do meu pouco apego com crianças, nos dias atuais.

Felizmente, anos mais tarde, quando eu já era um adolescente revoltado, pude ter minha vingança. Eu voltava do colégio, quando vi um desses lutadores de jiu-jitsu atiçando um pitbull num gato preto e branco, que gemia em cima de uma árvore baixa. Isso não ficaria assim, eu não poderia deixar outra atrocidade acontecer – eu já não era mais um moleque indefeso.

O tijolo acertou o lado esquerdo da cabeça do cachorro. Ele não morreu, mas tombou e ficou chorando, enquanto eu… Bem, eu já não era mais criança e sabia muito bem que enfrentar um lutador de jiu-jitsu é suicídio. Então corri. Estou correndo até hoje. (nota: eu não odeio cães, gosto deles, mas nesse caso, não era um cão e sim uma fera contaminada pelo caráter ruim de seu dono).

Esse texto de Bukowski, “O Gato e a Humanidade”, é um dos melhores exemplos da humanidade do escritor. Pena a maioria de seus leitores buscar exclusivamente a pornografia em seus livros e ignorar esse lado humano e sua compaixão pelos menos favorecidos, que é a alma de sua obra.





Conversa às Três e Meia da Madrugada

às três e meia da madrugada
a porta se abre
e há passos na entrada
que trazem um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e vai ver quem é.

com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?

e ela entra
com o cabelo nos rolinhos
e num robe de seda
estampado de coelho e passarinho

e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.

você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e canções românticas,
e depois de uns dois copos
ela não se preocupa com cobrir
as pernas
com a beira do robe
que está sempre caindo.

não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolinhos,

e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.

e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.


Poema nos meus 43 anos

Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.

... de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.

Um poema de amor

todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.

principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.

há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.

sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.


todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.

essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.


Confissão

esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama

sinto muita pena de
minha mulher

ela vai ver este
corpo
rijo e
branco

vai sacudi-lo e
talvez
sacudi-lo de novo:

“Henry!”

e Henry não vai
responder.

não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.

no entanto,
eu quero que ela
saiba
que dormir
todas as noites
a seu lado

e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas

e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora
ser ditas:

eu
te amo.


07 maio 2009

9ª Sinfonia - O hino à humanidade


A 9ª Sinfonia foi escrita de 1822 a 1824 e executada pela primeira vez em 7 de Maio de 1824. De todas as obras de Beethoven é a que tem a história mais longa e complexa, sendo de sublinhar desde logo dois factos: primeiro, situa-se num ponto de convergência de quatro dados diferentes que se foram interpenetrando progressivamente; o segundo é que, ao terminar a 9.ª Sinfonia, o primeiro destes dados data de há trinta e dois anos e o mais recente tinha também já doze anos.

Estas duas verificações fazem sobressair, por um lado, o esforço de criação sintética que dá conscientemente unidade à 9.ª Sinfonia e, por outro, o seu lugar excepcional na vida e na obra de Beethoven.


A "Ode à Alegria", de Schiller, e o "Hino à Alegria"

 

Foi no segundo semestre de 1785 que Schiller, com vinte seis anos de idade, escreveu a Ode à Alegria. Schiller era então hóspede do seu amigo Koerner e sua mulher, que, depois de um período doloroso e agitado da sua juventude, o ajudaram a reencontrar o gosto pela vida, estado de espírito que tem importância para compreender o caráter do poema.

Outro fato importante é o de Koerner e o seu sogro serem empenhados franco-maçons. Conquanto Schiller não fosse franco-maçon, a sua viva simpatia pela maçonaria declarou-se abertamente em muitas das suas obras e a Ode à Alegria foi escrita expressamente para ser cantada ou lida em lojas maçónicas e testemunhos vários confirmam a sua utilização nas reuniões dessas lojas.

Schiller publicou o poema em 1786 no segundo caderno da sua Rheinischen Thalia. A Ode à Alegria foi imediatamente acolhida com entusiasmo em quase toda a parte. Com o correr do tempo, porém, Schiller acabou por se desgostar do poema. Em 1800, escrevia: "apesar de um certo fogo de sentimento, é um mau poema, que marcou um estádio da minha evolução por mim já completamente ultrapassado". E nas edições das suas obras, posteriores a 1800 introduziram importantes variantes no texto.

Beethoven deve ter tido conhecimento da Ode desde a sua publicação, mas de certeza desde 1792 e pode afirmar-se com segurança que conhecia as idéias filosóficas de Schiller, tal como são expressas noutros escritos, e o sentido que emprestam ao poema. Para Schiller, a alegria estava intimamente ligada, quase até à plena identificação, ao desenvolvimento da atividade humana e o "Eliseu" (de quem a alegria é filha: Tochter aus Elysium) correspondia a uma noção precisa: opunha-se, por um lado, à "Arcádia", ou seja, ao mito do Éden e da Idade de Ouro, à felicidade primitiva. O Eliseu não se situava no passado, mas sim no futuro da história humana e, por outro lado, opunha-se à idéia de um céu transcendente e sobrenatural. O "Eliseu" de Schiller constituiria a derradeira fase da história, o momento em que o Reino de Deus se estabelece na Terra pela realização da fraternidade humana (segundo as idéias de Kant, adaptadas por Schiller), o momento em que os Estados políticos desaparecerão no reino universal da razão, o momento em que a ação dos homens conquistará o paraíso da alegria.

Segundo Ludwig Nohl, era do conhecimento público, na época de Schiller e de Beethoven, que o primeiro tinha escrito primitivamente uma Ode à Liberdade, e que depois, receando a censura, tinha substituído a palavra Freiheit (liberdade) pela palavra Freude (alegria). Seja qual for a veracidade desta tradição, é inegável que ela se tinha expandido muito na Alemanha de então e que Beethoven a conheceria.

De qualquer modo, desde 1792 pelo menos, Beethoven projeta pôr em música a Ode à Alegria. A tentativa não se concretiza, então, mas a ideia não é abandonada.. De entre os motivos que impedem a realização imediata do intento há que ter em conta a intensidade da admiração do compositor por Schiller que o levaria a escrever ao seu amigo Czerny: "As poesias de Schiller são de grande dificuldade para o músico: o músico deve saber elevar-se muito acima do poeta - e quem o conseguirá com Schiller-Goethe é bem mais fácil!"

O tema musical do Hino à Alegria aparece pela primeira vez na música de Beethoven em 1795, utilizado então num lied ("Amor Correspondido").Como acontece na maior parte dos temas beethovenianos mais típicos, é provável que também este tenha a sua origem no folclore. Por outro lado, Romain Rolland, ao analisar a estrutura melódica daquele lied, assinala o seu parentesco com a música do teatro da Revolução Francesa e com os hinos revolucionários (Monsigny, Grétry, Cherubini, Dalayrac, Philidor, Méhul, etc.).

O tema do lied surge ligeiramente modificado num esboço de 1804 e de novo em1808 na Fantasia op. 80, na qual, como mais tarde na 9ª Sinfonia, é primeiro exposto pelos instrumentos e depois retomado pelas vozes. Em 1810 é mais uma vez retomado noutro lied, este sobre um poema de Goethe (op. 83, nº. 3).

Note-se que Beethoven reserva sempre este tema para a música vocal e que o emprega sempre para exprimir a conquista da felicidade pela ternura do amor conjugal ou da fraternidade. O tema só volta aparecer, num caderno de esboços, doze anos mais tarde, no Verão (ou o mais tardar no Outono) de 1822, depois de terminada a Missa em ré e a Sonata op. 111, e então já na sua forma definitiva. Acompanham-no desta vez palavras da Ode à Alegria.

Em 1807 Beethoven pensa rematar o último andamento da Sinfonia Pastoral (6ª) com um coro de ação de graças, idéia sustentada, mais ainda que pelas duas Cantatas de 1790, pela experiência do final do Fidélio, onde o coro dos prisioneiros libertados é sustentado por um grande movimento orquestral. Mas não será ainda na Pastoral que tal desejo se concretiza. Só no ano seguinte, 1808, é que se realiza pela primeira vez o seu projeto, na Fantasia para piano, orquestra e coros, op. 80, sendo significativo sublinhar que, além do recurso ao tema musical anterior, o próprio texto da Fantasia exalta a aliança entre a palavra e a música.

Nos anos que se seguem Beethoven nunca mais se arrisca a uma tentativa desta envergadura, nem com os coros das Ruínas de Atenas e do Rei Estevão (1811), nem com os diversos coros de circunstância de 1814-1815.


Os projetos de sinfonias entre 1812 e 1824


No fim de Maio de 1812, Beethoven escrevia a Breitkopf e Hãrtel que estava a compor "três novas sinfonias e que uma delas estava quase terminada". Por essa altura, com efeito, termina a 7ª e trabalha na 8ª. No Verão de 1812 encontra-se, entre os trabalhos para a 8ª, o seguinte apontamento: "Sinfonia em ré menor- 3.1 Sinfonias." A partir deste momento, portanto, estava prevista a tonalidade inicial da 9ª. Beethoven acaba a 8ª em Outubro de 1812, mas só em 9 de Julho de 1817 escreve ao seu amigo Ries dando-lhe conta de que começara a trabalhar em "duas grandes sinfonias inteiramente novas" e de que as terminará em Janeiro de 1818. Mas a sua capacidade de trabalho, em 1817, é afetada pelo seu estado de saúde. Esboça, no entanto, o primeiro andamento da Sinfonia em ré menor, futura 9ª.

Em 1818, recompõe-se, mas será absorvido durante quatro anos pela composição da Missa em ré e pelas últimas sonatas. Assim, também os poucos esboços do ano anterior são abandonados provisoriamente, mas, a meio de 1818, Beethoven formula um outro projeto: uma sinfonia com coros em que o adágio seria um mito grego ou um cântico eclesiástico e cujo final seria uma festa de Baco. Não pensa, porém, dedicar-se imediatamente ao assunto.

No princípio do Verão de 1822, o compositor encontra-se novamente disponível e os projetos das sinfonias voltam a primeiro plano. No meio de muitas hesitações, decide concluir a 9ª Sinfonia em ré menor com os coros do Hino à Alegria. A obra fica integralmente terminada em Fevereiro de 1824.

É de supor que, se Beethoven mudou de idéias em pleno trabalho e decidiu fazer da Sinfonia em ré menor uma sinfonia com coros foi porque tomou consciência de que o significado psicológico dos três primeiros trechos exigia que a obra terminasse com o Hino à Alegria. Ele próprio confirma tal suposição. No momento em que toma esta decisão (Outubro de 1823), o nó do problema é encontrar o ponto de inserção do hino na sinfonia. Beethoven esboça então o início de cada um dos três primeiros andamentos.

Perante o começo do 1 ° trecho, escreve: "Não! Isto transportar-nos-ia pela recordação ao nosso estado de desespero." Perante o começo do 2 °: "Isto também não! Não é mais que uma farsa. Somente um pouco mais alegre. [Encontremos] qualquer coisa de mais belo e de melhor." Perante o começo do 3.°: "Isto também não! É demasiado terno. É preciso procurar qualquer coisa de mais resoluto". Não se pode esquecer que estas anotações têm caráter retrospectivo; Beethoven definiu a posteriori a significação dos três trechos já terminados ou prestes a sê-lo. Contudo, estas notas constituem o único fio condutor legítimo na interpretação da 9ª. E explicam a razão por que, no princípio do andamento final, Beethoven teve o cuidado de evocar os três andamentos precedentes antes de introduzir o tema da Alegria.

A estrutura dos três primeiros andamentos da Sinfonia e a introdução orquestral antes da entrada das vozes é objeto de um dos mais alargados debates da história da música, mas é geralmente aceite a teoria de Romain Rolland quando vê uma espécie de ensaio geral no que precede a parte vocal. O verso inicial ("Oh amigos, não esta melodia") reportar-se-ia assim à enérgica rejeição do começo dos três primeiros andamentos correspondendo às anotações que comentam essa mesma rejeição.

Entretanto, não é exatamente o texto da "Ode à Alegria" que então é cantado, a ponto de Otto Baensch escrever que Beethoven, à força de transformar o poema de Schiller, tinha feito um poema de Beethoven. Opinião exagerada, dado que o texto de Beethoven se compreende inteiramente, ou quase, no texto de Schiller, mas pelas importantes supressões operadas, pela mudança de ordem das estrofes e dos refrãos conservados o compositor dá ao poema um acento completamente diferente.

Beethoven adapta o texto revisto por Schiller no fim da sua vida e não o texto primitivo de 1785. O fato não implica forçosamente a sua adesão à segunda versão: era difícil a Beethoven opor-se ao próprio Schiller. Beethoven elimina do texto de Schiller todas as alusões políticas e sociais, quando era, sobretudo nelas que pensava em 1812, mas não podia proceder de outra maneira: a censura de Metternich teria proibido a obra se Beethoven não tivesse sido prudente. Pelo contrário, há supressões de natureza religiosa que a censura não explica. Se Beethoven conserva do texto, e repete mesmo com exaltação, que um bom Pai tem de existir acima das estrelas, suprime, em contrapartida, todas as alusões à recompensa dos justos por Deus, ao perdão das injúrias e à eterna bem-aventurança no além. É difícil supor que tais supressões não correspondam a pontos relativamente aos qual Beethoven, se sentia, pelo menos, religiosamente constrangido. Aliás, a evolução da parte coral é evidente, abandonando progressivamente a adoração religiosa e passando à festa popular, com traços musicais muito próximos dos temas báquicos que surgem em anotações iniciais.


Uma obra polemica e apaixonada


A publicação das 9.ª Sinfonia (Outubro de 1826) suscitou muito menos problemas do que a da "Missa" em ré, mas, mesmo depois de publicada a obra, Beethoven ainda há de ocupar-se da sua metronomização. Sobre a dificuldade da escolha entre metronomizações diferentes e inconciliáveis, que Beethoven sucessivamente adaptou, basta lembrar, aqui, que em Setembro de 1825, ante a profunda incredulidade do seu interlocutor, George Smart, Beethoven sustentava que a execução das 9.ª Sinfonia deveria ter a duração máxima de 45 minutos!

Apesar da deferência que eram mais ou menos obrigados a ter para com o notório gênio de Beethoven, os críticos musicais, na sua maior parte, não dissimularam, perante obra de feitura tão pouco tradicional, a sua incompreensão. É nestes termos que, em 1826, um redator do Allgemeine Mustkalische Zeitung, de Leipzig, se exprime a propósito das 9.ª: "Dir-se-ia que a música, de agora em diante, se propõe andar apoiada já não sobre os pés, mas sim sobre a cabeça. A última frase [da sinfonia] é o canto dos condenados precipitados do céu. (...) Erro notório do mestre provocado pela sua completa surdez." Em Março de 1828 lia-se na revista inglesa Harmonicon: "Os amigos de Beethoven, que o aconselharam a publicar esta peça absurda são certamente os mais cruéis inimigos da sua glória." - E em 1858 Oulibicheff escrevia ainda, a propósito do tema dó Hino à Alegria: "Este tema é uma lânguida cantilena que se repete interminavelmente e onde o auditor, profundamente entristecido mais não consegue distinguir do que a imagem do esgotamento e da senilidade."

Os cães ladram, a caravana passa. Logo em 1826, a 9.ª Sinfonia recebia fervoroso acolhimento em Berlim, onde suscitou entusiasmo mais profundo e mais durável que em Viena. Pela sua própria natureza, chegava mais facilmente do que outras obras de Beethoven ao coração de homens mesmo desprovidos de quaisquer conhecimentos de ordem musical.

Em 1848, quando a revolução estala em Dresden e se combate violentamente nas ruas da cidade, Ricardo Wagner, que está do lado dos insurrectos, encontra defronte do edifício da ópera de Dresden, incendiado durante a luta, um combatente que lhe grita: "Herr Kapellmeister, foi a Alegria, bela centelha dos deuses, que o ateou!".

 

Abertura Egmont - O herói libertador

Egmont é uma personagem histórica sobre a qual Goethe escreveu um drama com o mesmo nome, levado à cena em 1787.

Nascido em 1522 de família nobre holandesa, Egmont foi um valoroso capitão de Filipe II, condecorado com a ordem do Toison d' Or, príncipe de Grave, que se cobriu de glória nas batalhas de Saint-Quentin e Gravelines. Quando da insurreição dos Países Baixos contra os espanhóis, Egmont quis contribuir para a libertação da sua pátria e aproximou-se de Guilherme d'Orange e dos confederados. O duque de Alba, governador do país e inimigo pessoal de Egmont, sabedor do seu envolvimento na conspiração, fê-lo prender e condenou-o à decapitação em 1568.

Ao por o personagem em cena, Goethe permitiu-se tomar algumas liberdades. De homem em idade madura e pai de nove filhos que a personagem histórica foi o Egmont de Goethe passa ser um jovem que se apaixona por uma bela plebéia, Clara. É um chefe, porém mais político que guerreiro; um nobre que ao invés de cultivar o orgulho pelos seus títulos, cultiva o amor à liberdade e um sentimento de solidariedade humana que se confunde com o próprio amor à vida; que está próximo do povo. Nesta criatura metamorfoseada pela imaginação do jovem Goethe, exprimem-se os sonhos do Sturm und Drang pré-romântico. Egmont é a primeira grande encarnação do "demoníaco" goetheano: é possuído por forças primitivas, que lhe dão uma ilimitada confiança em si, o impelem aos grandes feitos. Egmont assume-se como uma vítima do destino, que não controla. A sua força é ao mesmo tempo a sua fraqueza: com essa energia instintiva e ingênua, Egmont não consegue enfrentar a estratégia e os ardis da política. Neste aspecto, o herói encarna o velho dilema entre o bem e o mal: entretanto preso e condenado à morte pelos espanhóis, Egmont chegará a um novo estádio de renúncia. É com a imagem de Clara, a jovem amada, que a liberdade lhe aparece na cela, durante o sono, para lhe trazer a coroa da vitória. Desta forma, para além dos tumultos do pré-romantismo, Egmont descobre um sentido mais profundo da liberdade e compreende que depois da morte o melhor de si mesmo sobreviverá e será engrandecido pelo seu martírio.

Goethe concebera o seu Egmont para ser acompanhado com música. As diversas passagens em que à música foi prevista estão Indicadas de forma precisa no seu texto e Beethoven, ao escrever a sua música de cena, não fez mais do que conformar-se estritamente com os desejos de Goethe, acrescentando apenas a abertura e os quatro entreactos.

É a seguinte a ordem dos diversos trechos e sua situação em relação à peça de Goethe:

- Abertura em fá menor introduz o 1º ato.
- I.ºLied de Clara, durante o 1.º ato, canção de guerra, chamamento às armas, Canto de Partida e da Liberdade: "0 tambor ressoa / o clarim toca; / o meu amor armado / comanda o exército, / ... / E eu vou segui-lo / ... / por todo o mundo!"

- I.ºEntretanto, introduz o 2.º ato; decompõe-se num andante seguido de um allegro conmbrio que anuncia a atmosfera de excitação e revolta que será a do inicio do 2.º acto.

- 2.º Entreato, largueto, introduz o 3.º ato. É muito mais longos e intensos que o anterior; evoca o amor de Clara e Egmont com a presença militar em segundo plano. Alguns acordes deste entreacto aproximam-se já de certas frases do Sanctus da Missa em ré maior.

- Segue-se, durante o 3.º ato, o - 2.º Lied de Clara, canto apaixonado, que lembra as grandes páginas de Fidélio: "É digna de inveja / a alma que sabe amar, / Ora pensativa / ora alegre e viva / ora ainda triste. / Passar num só dia / do riso ao martírio."

- 3.º Entreato, introduz o 4º ato. Construído sobre o tema do segundo Lied de Clara.

- 4.º Entreato, introduz o 5.º ato. Aparecem aqui os trompetes que, no fim do ato, acompanharão Egmont na sua marcha para a morte.

- l.º melodrama, sem palavras: a Morte de Clara. Goethe escrevera: "Ouve-se uma música que exprime a morte de Clara". Beethoven não escreveu uma música fúnebre mas, antes pelo contrário, uma música que exprime a felicidade e a libertação, a elevação para algo de luminoso e pleno de alegria. Retoma o tema do amor de Clara e Egmont, já enunciado no segundo andamento.

- 2.º melodrama: o Sono e depois o Monólogo de Egmont. Uma orquestração próxima da que introduz o monólogo de Florestan na prisão (2.º ato de Fidélio) evoca o sono de Egmont e a aparição de Clara sob os traços da liberdade. Egmont desperta; segue-se então a página mais bela e mais surpreendente desta música de cena. O texto liga-se estreitamente à música, os tambores que anunciam a morte de Egmont aproximam-se cada vez mais, tornando-se progressivamente mais insistentes. O texto de Goethe adquire toda a sua força, sustentado pelo sopro épico desta página beethoveniana.

- Sinfonia da vitória final - A sinfonia brota como uma chama das últimas palavras de Egmont, enquanto o pano cai como uma prova patente da sua inegável vitória. Toda esta sinfonia da vitória retoma exatamente a última parte da abertura.

Do conjunto do trabalho de Beethoven para a peça de Goethe, a Abertura em fá menor é habitualmente interpretada isoladamente como peça instrumental sinfônica, como sucederá no concerto da Festa do "Avante!”.

 

 

 

Segundo MASSIN, Jean e Brigitte. Ludwig Van Beethoven. Editorial Estampa. Lisboa, 1972

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Quem quiser ouvir enquanto ler (Minha Amada Imortal - Nona sinfonia de Beethoven)

Ode To Joy

O Freunde, nicht diese Töne!

Sondern lasst uns angenehmere anstimmen
und freudenvollere!

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken.
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt;
Alle Menschen werden Brüder
Wo dein sanfter Flügel weilt.

Wem der grosse Wurf gelungen
Eines Freundes Freund zu sein,
Wer ein holdes Weib errungen,
Mische seinen Jubel ein!
Ja, wer auch nur eine Seele
Sein nennt auf dem Erdenrund!
Und wer's nie gekonnt, der stehle
Weinend sich aus diesem Bund.

Freude trinken alle Wesen
An den Brüsten der Natur;
Alle Guten, alle Bösen,
Folgen ihrer Rosenspur.
Küsse gab sie uns und Reben,
Einen Freund, geprüft im Tod;
Wollust ward dem Wurm gegeben,
Und der Cherub steht vor Gott!

Froh, wie seine Sonnen fliegen
Durch des Himmels prächt'gen Plan,
Laufet, Brüder, eure Bahn,
Freudig, wie ein Held zum Siegen.

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken.
Himmlische, dein Heiligtum!
Seid umschlungen, Millionen.
Dieser Kuss der ganzen Welt!
Brüder! Über'm Sternenzelt
Muss ein lieber Vater wohnen.
Ihr stürzt nieder, Millionen?
Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such ihn über'm Sternenzelt!
Über Sternen muss er wohnen.


Ode à Alegria


Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!

Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.

Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!

Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!

Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.

Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora.

06 maio 2009

Legislativo é o Baralho!

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Meu Pai eterno... confesso que a muito não me confesso e que já tem um tempo que não frequento aquela casa que dizem ser tua, mas como sei que o seu coração é grande e sem fim, venho a Vossa Presença (Você está aqui por perto, certo!?) pedir (Não, não é para eu ganhar na mega sena ou ver o meu time ganhar um título significativo) para que o Senhor de um jeito naqueles homens e mulheres do nosso legislativo...

A situação já passou do limite, não há como tolerar mais uma notícia sequer (e eu sei que hoje, logo mais no noticiário, haverá mais alguma), é dinheiro na cueca, é passagem para a amiga da mãe do cunhado do garoto que passou na frente da casa do amigo do Sr. Deputado, é babá pós-graduada em administração de empresas coordenando esquema milionário de empréstimos consiganados, é mensalão, mensalinho, é o raio que o parta... Daquela casa só não saem providencias, procedimentos, ações as quais possibilitem uma melhora dessa nossa vida sofrida.

Carregamos o país nas costas ao arcar, sem questionar, com uma pesadíssima carga tributária. Pagamos impostos os quais deveriam garantir educação, segurança e saúde (isso para me ater ao mínimo), mas o que temos em troca? Se o filho não estuda numa escola particular dificilmente vai conseguir vaga numa universidade pública de qualidade, se não pagar um plano de saúde é melhor pagar um plano funerário, se não contratar equipe de vigilância privada, cerca elétrica, se não pagar a contribuição à milícia, esquece a paz (paz!?). Somasse a isso tudo o que enfrentamos no mercado dia-após-dia. Não bastasse todas as preocupações, todos os problemas as serem resolvidos, a crise econômica mundial, temos que nos deparar com a notícia de que os deputados estão preocupados com o aumento do próprio salário.... Paro por aqui... vou ali queimar um pneu (Puts, não dá... tem a questão ambiental também...),... tá, então vou tomar uma cerveja pra ver se me acalmo. Afinal, tal como grande parte da população, minha indignação acaba no gole gelado... Ei, com quem estava conversando mesmo!?