30 junho 2009

A preguiça de pensar gera estes temas... para voces lerem.

Esta é uma foto de um banheiro público que essa senhora está entrando


Agora que você viu do lado de fora, veja do lado de dentro


As paredes são feitas de vidro transparente .
Ninguém lá fora pode ver você lá dentro, mas quando você está dentro dele, é como se estivesse dentro de uma caixa de vidro transparente.

Banheiro com o chão pintado
Imagine que você está numa festa no décimo andar de um prédio. Daí, você precisa ir ao banheiro.
Você abre a porta .....
Não esqueça que o chão é pintado ...
Veja abaixo. Incrível, não é mesmo?


Isso não te deixaria confuso? Você seria capaz de usar esse banheiro?



Veja abaixo uma pintura no teto de uma área designada aos fumantes...


7 fenómenos da natureza pouco conhecidos

Os fenómenos naturais são absolutamente impressionantes.

Alguns são tão raros, que nem a ciência, com todo avanço tecnológico é capaz de identificar.

Imagine que a natureza nos oferece a possibilidade de vermos várias pedras que se movem sozinhas ou formações geométricas geradas pelo esfriamento de lava.

A seguir você pode acompanhar sete fenómenos impressionantes, que muita gente desconhece.

As pedras que se movem

Até hoje ninguém conseguiu explicar por que, misteriosamente, pedras de centenas de quilos se deslocam do seu ponto de origem pelo deserto de Death Valley.

Alguns pesquisadores atribuem tal fenómeno aos fortes ventos e à superfície gelada, mas esta teoria não explica, no entanto, por que as pedras se movem lado a lado, ou em ritmos e direcções diferentes.

Além disso, os cálculos físicos não apoiam plenamente esta teoria.

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Colunas de Basalto

Este fenómeno ocorre com o arrefecimento de um fluxo de lava espessa, formando uma malha geométrica com notável regularidade.

Um dos famosos exemplos é o Giant?s Causeway, na costa da Irlanda (fotos), embora a maior e mais conhecida seja Devil?s Tower no Wyoming.

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Buracos azuis

Os buracos azuis são gigantes elevações subaquáticas que recebem este nome pela tonalidade de azul que apresentam quando vistos do alto.

Normalmente possuem centenas de metros de profundidade e têm um ambiente desfavorável para a vida marinha, já que a circulação de água é deficiente.

Curiosamente, nas profundezas de alguns destes buracos foram encontrados restos fósseis preservados.

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Maré vermelha

As Marés Vermelhas são formadas pelo súbito aumento do fluxo de algas de cor única, que podem converter uma parte da água numa cor vermelha sangue.

Embora fenómenos desta natureza sejam relativamente inofensivos, alguns podem ser mortais, causando a morte de peixes, aves e mamíferos marinhos.

Em alguns casos, até os seres humanos podem ser afectados, embora a exposição humana não seja conhecida por ser fatal.

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Círculos de gelo

Enquanto muitos acreditem que estes círculos perfeitos sejam obra de alguma teoria da conspiração, os cientistas geralmente aceitam que eles são formados por turbilhões de água que fazem rodar um pedaço de gelo considerável, num movimento circular.

Como resultado desta rotação, outros pedaços de gelo e objectos gerados pelo desgaste uniforme nas bordas do gelo vão lentamente formando um círculo.

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Nuvens Mammatus

Aparentemente assustadoras, as nuvens Mammatus também são mensageiras de tempestades e de outros eventos meteorológicos extremos.

Normalmente compostas de gelo, elas podem se estender por centenas de quilómetros em vários sentidos e formações, permanecendo visíveis e estáticas entre 10 minutos e 1 hora.

Embora pareçam portadoras de más notícias, elas são apenas mensageiras, aparecendo antes e/ou depois de uma grande mudança meteorológica.

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Arco-Íris de fogo

Este raro fenómeno só ocorre quando há a participação do sol e das nuvens.

Cristais dentro das nuvens refractam a luz em várias ondas do espectro, fazendo surgir cores entre as nuvens.

Devido à raridade com que este evento acontece, existem poucas fotos.

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26 junho 2009

O Rei morreu(ainda bem).




Sabe o que me deixa mais indignado? É estar fazendo como os demais... Escrevendo sobre o Michael... Mas eu tenho um diferencial.... A praga ruim já foi tarde, estou quase acreditando que deus existe, pois isso foi a libertação de uma praga a menos no mundo, na boa musicalmente era chato e sem graça... Até os Beatles que não me apetecem, são infinitamente melhor que... Cantar??? com aquela voz de criança definhada... haja pacianecia, dançar? é isso ele fazia bem, bem adestrado... o pai ensinou bem, vc notava que ali era bem ensaiado, nada de erros na coreografia... Creio que foi por isso que ele virou fenomêno. Ou seria a história da vida dele? Um garoto de gueto, o setimo de nove irmãos, a estrela da familia Jakson, aliás o legado se foi... por que os demais irmãos para nada servem, só umas irmãs dele que se dariam bem sendo atrizes da Buttman...
Em nada ele acresceu culturalmente as sociedades, não me venham com balela, um monstro depois de Elvis no tocante cria da midia... e durou, afinal o cabra cantava desde os quatro anos de idade, passou os ultimos dez no ostracismo.... uns filhos (que tenho minhas dúvidas, os muleques são quase albinos), umas dívidas, belissimo legado... Até Wando deixará mais coisas se brincar muito (um cara feio feito peste, cheio de mulheres bonitas desesperadas atirando calcinhas no cabrón)...
Mas para as viuvas do Micheal... as minhas condolências... pois é um PEDÓLATRA a menos.

Ileniel

23 junho 2009

Não reclamo sózinho... eu penso que sim, infelizmente!


Há muito tempo reclamo do sapo barbudo, mas tenho convivido com os inumeros argumentos sobre as bolsas sei lá o que, estas vão desde auxilio a patrocionios desenfreados (ou voce pensa que pagar por filho é patrocinar o que: 1º livre sexo?_ 2º produção em série de problemas futuros?), e o pior com a porra dos meus impostos, eu sou obrigado a sustentar as fodas de malditos que rondam minha casa para ver algo que pode a eles propciar mais cachaça ou mais maconha, crack, por ai vai... É fóda! Mas o dezenove dedos está fazendo uma ótema (é ótema sim e não ótima) politica éconômíca, "o Brasil vai ficar rico" e vamos faturar um tijolão (parafraseando Renato Russo), mas os malditos esquecem que ele apenas da continuidade em algo começado oito anos antes do seu primeiro governo... que para alguns foi um verdadeiro estupro para as posses do Estado Federativo, para outros finalmente um alivio nas mazelas causadas aos nossos bolsos (é confesso que diminuiram as contas do estados, menos os impóstos impostos.), as famigeradas provatizações e outras mais do governo FHC (só lembrando até hoje não foi julgado o segundo mandato de FHC e Lula... então alguem ainda pode sacanear e detonar tudo que um fez e outro faz no segundo mandato, ou seja terceiro mandato é IMPOSSIVEL), logo aparecerão os que me chamarão de louco retardado, etc, etc e blá, blá, blá. Segue o Famoso Control C e Control V:

Política externa brasileira "cheira mal", diz americano

A opinião é do renomado colunista Andres Oppenheimer, que escreve sobre assuntos latino-americanos para o Miami Herald.
Em sua coluna mais recente, ele critica Lula e o Itamaraty pelas recentes posições brasileiras no tocante a direitos humanos. Cita como exemplos votações no Conselho de Direitos Humanos da ONU em questões que afetariam Coreia do Norte, Sri Lanka e Congo, nas quais o Brasil se absteve de votar.
Fala com José Miguel Vivanco, diretor regional da ONG Human Rights Watch, que diz: "O Brasil vê os direitos humanos como um obstáculo para suas metas. Acredita que seu apoio a políticas anticolonialistas em [países] do Terceiro Mundo deve sobrepor-se a considerações sobre direitos humanos.
O México é um país-modelo no tocante a padrão de política de direitos humanos, seguido por Chile, Argentina e Uruguai. O Brasil está do outro lado do espectro." Conclui Oppenheimer: "Minha opinião: o Brasil --e seu presidente-- merece muito crédito por se tornar um modelo de estabilidade econômica, de redução de pobreza e de liberdade política numa região em que muitos outros países retrocedem nesses três campos.
Mas sua política externa cheira mal ("stinks", no original em inglês). O Brasil deveria respeitar seus compromissos em tratados internacionais de defesa de direitos humanos e princípios democráticos e deixar de elogiar ditadores.
Se Lula continuar a fechar os olhos para casos de abusos de direitos humanos no mundo, vai abrir precedente para que futuros governos façam o mesmo em seu próprio país".
Apesar de algumas bolas fora (em 1993, ele escreveu livro famoso sobre Cuba que previa que o regime de Fidel Castro tinha meses de vida), a opinião de Oppenheimer sobre o país é importante. Por ser um dos raros colunistas dos EUA que se dedica à América Latina, ele tende a ser uma das poucas vozes de fora do governo e do circuitinho "think tanks" ouvidas pela Casa Branca e adjacências (e com quem a Casa Branca e adjacências falam) quando o assunto é a

região.

Adoro isso.
Mas vamos lá... além do nosso inestimado presidente estar com 80% de aprovação popular (nunca vi nem de longe estas pesquisas, elas devem ser feitas aonde o povo só recebe esta desgraça de patrocinio), ele ser tão bem quisto por todos (incluso os Vilipendiadores dos Direitos Humanos, que ele mesmo faz questão de elogiar e rasgar seda para os fdp), o Brasil almeja uma cadeira no conselho de segurnça da ONU... com todos os problemas q temos neste campo aqui, os Cabras não nos querem nem no conselhos dos seguranças da porta de banheiro...
É mas vamos lá... seus salários nada valem, não recebem patrocionios federal por que não fazem produção em massa (ou seja: ide e povoai o Brasil), não é amigo pessoal dele para ter um cargo em Brasilia... mas como boa parta do Brasil que é constutuida por imbecis que se contentam com pouco ou nada e fazem questão não enchergarem o óbvio... Votem sempre assim, não presta mesmo saber usar o Titulo Eleitoral, inteligencia nestas horas não serve... só no festival de bundas, tetas e exames de DNA na televisão.
Ileniel Nunes

20 junho 2009

Rimbaud

O cidadão francês Jean Nicolas-Arthur Rimbaud nasceu em 20 de outubro de 1854 - e morreu 37 anos mais tarde, em 10 de novembro de 1891. O poeta Arthur Rimbaud nasceu lá por volta dos 15 anos e "morreu" aos 19. A partir daí seria Rimbaud, o aventureiro, o traficante, o mártir. Foram várias vidas em uma. Ou melhor: uma vida vivida sob múltiplas formas.

É mesmo um enigma: como é que alguém escreve O Barco Ébrio e outros poemas fundamentais (além das prosas de Uma Temporada no Inferno e As Iluminações), dá uma banana à literatura e desaparece quase sem deixar rastro? Quando morreu, mutilado e agonizante de dor num hospital de Marselha, Rimbaud quase já não era mais lembrado pelos seus contemporâneos. Sua obra teve que esperar algumas décadas para reingressar na corrente sanguínea da literatura francesa e a partir daí aparecer para o mundo. Mas o que houve entre o abandono da poesia e a morte aos 37 anos?

Assim que completou O Barco Ébrio, Rimbaud despachou o poema para Paris. O destinatário era o poeta de 27 anos e recém-casado Paul Verlaine (1844-1896), que começava a aparecer no cenário com seus versos musicais. Entusiasmado, Verlaine convocou Rimbaud para a Cidade-Luz, na época a capital literária do mundo, com seus cafés, uma infinidade de revistas e um clima cultural que atraía exilados de todas as nacionalidades, idiomas e tendências políticas e sexuais.

O encontro dos dois autores foi muito mais que poético: Rimbaud e Verlaine formaram um dos casais mais famosos da história da literatura (confira o quadro sobre casais de escritores), e talvez o mais barraquento deles. O romance costumava terminar na delegacia, depois de muito choro, sopapo e alguma trégua. Pelo seu jovem amor, Verlaine comeu o brioche que o diabo amassou: destruiu seu casamento, viveu na sarjeta sem um tostão furado e foi preso por uma suposta tentativa de homicídio numa viagem da dupla a Bruxelas - episódios que inspiraram o filme, bem furreca, por sinal, Eclipse de uma Paixão, com Leonardo Di Caprio no papel do jovem poeta que leva um tiro no punho.

Episódios quase banais perto do que viria a ser em seguida a vida de Rimbaud. Pouco depois dos incidentes com Verlaine, o jovem de 19 anos pega a mochila e parte pela Europa. Desbrava Inglaterra, Áustria, Alemanha, Itália, Suécia. Uma série de viagens continentais, quase sempre a pé, quase sempre terminando em Charleville, sob as asas da mãe. No caminho, arranja empregos como intérprete de circo, tutor, capataz. Vira Rimbaud, o andarilho.

A grande mudança aconteceria em 1880. Trabalhando numa firma francesa estabelecida no Chipre, Rimbaud (que a essa altura não escrevia mais uma mísera linha de verso ou prosa) parte para o Egito, na época um dos grandes entrepostos coloniais. Empregado em outra empresa francesa, é designado para abrir uma filial em Harar, na Abissínia (atual Etiópia), sob o sol escaldante da África. A viagem a cavalo pelo deserto da Somália leva 20 dias. Harar era então uma cidade meio misteriosa, dominada pelo código severo do Islã, um pedaço do mundo em que poucos homens brancos haviam se aventurado, onde o termômetro marca 30 graus centígrados no "inverno".

Mas Rimbaud resolve diversificar sua atividade comercial. Viaja pelo deserto para comprar marfim e peles, negociando com as tribos nômades e com os donos do pedaço, sultões fascinados pelas armas de fogo. Também começa a se interessar por explorações (foi um dos primeiros europeus a atravessar a estrada de Antotto a Harar), encomenda uma máquina fotográfica e escreve artigos para revistas de geografia. Uma imagem famosa desse período é seu retrato com o rosto calcinado pelo sol ardente, a barba cerrada, o olhar severo. Parecia um "pobre bugre armênio", como definiu um amigo que o visitou na África.

Mudando-se para Aden (no Iêmen), Rimbaud consegue fazer muito mais negócios. E se embrenha na vida local: uma de suas companhias mais freqüentes era uma mulher da tribo islâmica argoba. Aprende o árabe e um punhado de dialetos. Fascina-se por alguns aspectos da religião islâmica. O selo com que lacrava suas cartas levava uma fórmula do Corão com o nome Abdalah, "servidor de Deus". Seu senso de justiça era admirado pelos nativos. Chamavam-lhe "a balança exata".

Cansado de ser empregado, interessa-se pelo tráfico de armas. Parecia-lhe simples: mandava trazer de Liège (Bélgica) fuzis reformados que custavam apenas oito francos. Revendia-os por 40. Lucro fácil. Mas as coisas não saíram como o esperado, e o comerciante francês teve que desbravar o deserto em busca de compradores, negociando armas, peles e escravos com gente esperta e às vezes amargando prejuízos em meio às instabilidades políticas da região e às pilhagens. Sem falar nos empregados, que desertavam no meio do caminho, deixando-o no meio do nada.

Por essa época começa a sentir dores insuportáveis no joelho direito, que incha dia após dia, afinando a perna e impedindo-o de se locomover (a ironia cruel disso tudo é que Rimbaud escrevera muitos anos o seguinte verso: "E não precisar das pernas / Que maravilha!"). São os primeiros sintomas do carcinoma, um tipo maligno de câncer. Resolve procurar atendimento médico na França. Manda fabricar uma padiola, contrata 16 homens e se põe a caminho de Aden para ali pegar um vapor até seu país. Uma via-crúcis, dolorosa e angustiante. Os homens derrubam-no várias vezes, a dor só aumenta e a viagem leva mais de dez dias.

Aos 37 anos, Rimbaud estava liquidado. Seu corpo apodrecia, exalava uma pestilência tenebrosa, as dores o conduziam ao limiar da loucura. Quando chegou a Marselha, em 23 de maio de 1891, os médicos logo amputaram sua perna. Mas o mal se alastrava. O comerciante Arthur Rimbaud morreu então em 10 de novembro. Apenas a mãe e a irmã acompanharam o enterro. Ninguém mais conhecia o poeta Arthur Rimbaud. E aqueles que o conheceram morreriam sem saber das razões que o levaram a abandonar a literatura. A pista pode estar numa declaração do poeta a sua irmã Isabelle: "Teria ficado doido - e, além disso, era porcaria". Julgamento frio, objetivo e desapaixonado. Indigno de um escritor. Próprio de um comerciante.

Na sua biblioteca ou na minha?

As histórias (atribuladas, às vezes) de alguns casais da literatura.

Os "loucos anos 20" foram em boa parte obra desse casal movido a jazz, álcoois, luxos e desvarios. Francis Scott Fitzgerald (1896-1940) e Zelda Fitzgerald (1900-1947) se amaram, escreveram e experimentaram uma decadência tão espetacular quanto seu brilho. O autor de O Grande Gatsby morreu fulminado por um ataque cardíaco em meio a frustrações e falências. Zelda (contista de mão cheia) teve um destino mais tenebroso: morreu num incêndio, no sanatório, alheia ao mundo e à própria história.

Os filósofos Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Simone de Beauvoir (1908-1986) se conheceram em 1929 e nunca se separaram. Mas Sartre aprontava das suas com alunas e discípulas e Simone confessou que seu primeiro orgasmo foi com o amante americano Nelson Algren (outro escritor), décadas depois do início de seu envolvimento com o autor de A Náusea. Entre crises e projetos filosóficos e políticos em conjunto, o casal protagonizou boa parte da história cultural do século 20.

Quando a escritora de teatro Lillian Hellman (1905-1984) encontrou o roteirista e autor de romances noir Dashiell Hammett (1894-1961) num restaurante de Hollywood, logo desconfiou que aquela seria uma longa história. E também cheia de arranhões, bebedeiras e crises. Durão, bom de copo e de cama, o autor de O Falcão Maltês fez o diabo com Lillian (sempre envolvida com outros homens), mas também foi o leitor, e às vezes mestre e editor, de alguns roteiros cinematográficos dela.

Décadas antes da liberação sexual e da luta dos homossexuais, as escritoras americanas Gertrude Stein (1874-1946) e Alice B. Toklas (1877-1967) tinham um relacionamento maduro e estável. Na década de 20, recebiam em sua casa, em Paris, gente como Picasso, Pound, Hemingway e Duchamp. Gertrudes era a verdadeira escritora: sua companheira, que datilografava seus escritos e dividia várias idéias, deixou um famoso livro de receitas e uma série de textos memorialísticos.

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Este texto sobre Arthur foi um dos que melhor resumiu rapidamente a sua vida, pois mesmo com rapidas observações em certos pontos... acaba se tornando extenso demais qualquer tema sobre o artista e a pessoa. Cazuza tambem deu sua contribuição cultural apresentando-o para aqueles que o não conheciam em só as mães são felizes (Exagerado 1985), infelizmente é mais um que guardei por tempo demais comigo (só encontrei por conta da arrumação de malas) e desconheço o seu autor...
Espero que tenham se deliciado um pouco.
Ileniel

17 junho 2009

Viva a Sacanagem

Pode até parecer que vou falar de politica, mas, não... Incrivel como a expressão sacanagem ficou associada a politica. Há dias nada escrevo por dois motivos: 1º Falta de tempo mesmo, em conjunto com a promiscua preguiça... 2º Estou quase virando um sem teto (resolvi me expulsar de casa)... Mas foda-se, estou a colocar as bronhas mentais em dia... Andando por um daqueles sites de informações que não podem faltar em nossas vidas do tipo:

10 coisas de filmes pornôs que todo homem gostaria na vida real

(eu ainda nao sei se aumentaria esta porra de lista ou diminuiria...)
mas vamos lá... sim vou usar o famigerado Ctrl + c Ctrl + v.

Com o advento do cinema, esta milenar arte não foi esquecida e em 1908, na França, surgia o considerado primeiro filminho pornô do mundo, "A L'Ecu d'Or ou la bonne auberge"(imaginem ver a merda de um filme porno em P&B mudo? exitante como chupar limão com pimenta), que mostrava um soldado em um encontro amoroso com uma empregada de uma hospedaria. Na década de 70, nos Estados Unidos, os filmes adultos passaram a ter uma produção mais rica e até mesmo enredos com "Garganta Profunda" e "Atrás da Porta Verde"(O Garganta até que da uma aninada, mas o da porta verde... é de cair o cú da bunda), ambos de 1972.

De lá para cá, invadiram a internet e satisfazem as taras de todos. De meninas com cara de teenagers a vietnamitas lésbicas gordas(vietnamitas? elas são feinhas demais, e o sujeito tem de estar pelo menos 10 anos na seca dentro de uma cela sem ver nem anuncio de calcinha e sutiã) há de tudo. Existe o lado negativo do pornô: não acreditar que aquilo tudo que passa na tela é simplesmente a personificação de fantasias e começar a acreditar que pode acontecer facilmente na vida real (é, realmente só fantasia mesmo, quando é que se chega em um bar da oi paraa mulher e já sai com ela direto para sua casa?). Assim, aqui vai uma lista de dez elementos da pornografia que todo homem adoraria que rolasse no seu dia-a-dia:


Todas as mulheres são ninfomaníacas: o barato nos filmes pornôs das décadas de 80 e 90 (aqueles com história) é que qualquer mulher, de torneiras mecânicas a guardas de trânsito, eram safadas e promíscuas. E tudo era motivo para sexo! O cara ia consertar a máquina de Xerox no escritório e se dava bem com a secretária do presidente. Vazamento na cozinha? Lá vinha uma encanadora, deliciosa e bonita, com trajes mínimos, e mexia no cano. Até a musa Jenna Jameson estreou um clássico onde fazia uma bombeira que, além de combater incêndios em prédios, apagava o fogo alheio (o FDP que escreveu este texto só viu os pornos europeus, porque filme americano ja começa com o sapeca iáiá).


Todas as mulheres são bissexuais: nas obras cinematográficas adultas, achar uma mulher 100% hétero é bem difícil. Não vale dançar homem com homem, mas mulher com mulher está totalmente liberado. E as moçoilas sempre têm aquela amiguinha que, em nome da amizade, a satisfazem plenamente. Tenta perguntar para sua namorada se rola isso e você vai estrear um filme de terror (não antes da bifa no pau da cera).


Todas as mulheres têm entre 18 e 21 anos: não importa se ela nasceu em 1974 ou 1990. Todas as gatinhas safadas dos filmes não passam de 21 anos de idade. E mais: são novinhas e estão lá "pela primeira vez". Só que as novatas têm um talento absurdo, pois já sabem fazer de tudo, sem que ninguém precise indicar nada (elas se formaram pelo antigo Instituto Universal Brasileiro)!


Todas as mulheres têm orgasmo: e mais do que isso: gritam alto, gemem mais que grávida dando a luz por parto natural e sempre o cara é o melhor que elas já tiveram. E isso vale para qualquer tipo de sexo que você pratique, oral, vaginal, anal e, provavelmente, veremos isso também na orelha e no nariz (orgasmos? poutz, eu achava que elas tinham sentado em alfinetes pelos berros que dão...).


Basta um maço de dinheiro e um carro que a vida está garantida:existe uma série de filminhos na internet onde aquele bando de americanos feios e peludos saem de carro, vêm a menina andando na rua, param, oferecem grana e a moçoila já está nua e fazendo coisas de deixar Calígula assustado. Minha sugestão é você tentar o mesmo na parada de ônibus, às seis horas da tarde para ver o que é bom para a tosse (o escritor deste texto deve ser um eximio desconhecedor das garotas de programa, e seus respectivos pontos).


A camisinha mágica: preservativos aparecem e desaparecem misteriosamente. Ninguém tem que pôr ou tirar. Você vai transar? Pronto! A camisinha já está devidamente colocada. Vai ejacular? Ela some. Não é preciso fazer cara de paisagem na farmácia ao comprar uma, parar a transa para se prevenir de problemas, ficar preocupado com o lado certo da borrachinha, e imaginar se está bem colocada ou se ela rasgou(Puta merda... Ainda fica prestando atenção no pinto dos caras para ver a camisinha? é um criado por avó mesmo!).


Não é preciso se preocupar com acessórios: as personagens femininas dos filmes pornôs têm tudo em casa. Abra a gaveta do criado mudo e você achará uma extensa coleção de acessórios que vão de vibradores diversos a plugs anais, cremes, gels, chicotes, algemas, cabo de bateria, chave Phillips e provavelmente Cathy, a vaquinha inflável (povo precavido, fazer o que?).


Um é pouco, dois é médio, três é ótimo, dezessete é uma festa:ménages e orgias acontecem tão naturalmente em filmes pornôs que a velha transa de casal é considerada careta. E aquela amiguinha no item 2 sempre aparece nas horas mais propícias e de vez em quando, acompanhada pela irmã, a tia, a vizinha, a prima de segundo grau e a menina que perguntou se elas sabiam onde ficava o açougue mais próximo(E filme porno com estória coerente existe?).


Ninguém tem ciúme de ninguém: sua esposa pegou você com a vizinha? Sem problemas. Ela tira a roupa e entra na jogada. O casal de melhores amigos parece apetitoso? Vamos lá para um swing caprichado. O importante é que a base do relacionamento está consolidada no companheirismo, tolerância, amor e lealdade. Até parece. Vai sonhando, vai(tsc tsc, o cara não consegue viajar nem com filme porno? A lavagem cerebral da vovó funciona mesmo).


A regra básica de finalização em filme pornô: nada de orgasmos internos ou na camisinha mágica (lembre-se que ela desapareceu). É no rosto mesmo, porque aparentemente nos filmes, toda mulher ama isso e espera que o homem a provenha da substância que, dizem, faz bem para a pele. Ou você nunca notou a cútis aveludada de gente como Mônica Matos, Tera Patrick ou Sasha Grey(tsc tsc... porra que cara chato, no minimo ele tem nojinho e não beija mulher que faz um bola gato nele, brincadeira isso viu) ?



Com isso tudo exposto voces pensam que eu ganhei algo de novo para minha vida (nem vocês gastando a porra do tempo lendo, mas eu li e resolvi que deveria compartilhar)?... Mas na verdade o autor do texto se esqueceu de um detalhe, esta certo que ele tentou ser uma pessoa coerente, de educação religiosa, demonstrar o quanto a sua vózinha o adestrou bem... Os famigerados filmes pornográficos possui seus méritos sim, e nem adianta que não vou explicar por crer que isso seria chover no molhado, atire a primeira pedra o maldito que nunca fez uso da sacanagem... até os malditos criados por avó, afinal eles precisam ver estes horrores para saberem se defender (ainda bem, menos concorrente atraz da mulherada...)

Ileniel




10 junho 2009

Chega de Escola

Mais uma molecagem na Caros Amigos: um malho nas escolas em uma revista lida fundamentalmente por professores e estudantes. Exagerei nas tintas, mas é tudo verdade.

Agora que tenho filho que estuda, simpatizo mais - porque vejo a utilidade de ter um lugar para estacionar o moleque durante o dia, porque ele faz amigos, porque de fato aprende lá algumas coisas - e menos - antes de mais nada, porque é uma roubalheira do cacete esse negócio de escola particular. Como o jardim da infância pode custar a mesma coisa que uma faculdade?

E é o fim do fim do mundo que eu tenha aprendido a ler mais novo que o meu filho.

Por essas e por outras, minha birra com o sistema educacional - qualquer um - vai me acompanhar para sempre.

CHEGA DE ESCOLA

Eu detesto escola. É uma perda de tempo miserável. Minha mãe me ensinou a ler, escrever e fazer as quatro operações. O resto foi aos trancos e barrancos.

Fui bem na escola até o momento em que precisei começar a estudar – dali para frente foi só o mínimo de nota para passar de ano (duas vezes, raspando).

Meu colegial ensinou a dar sinal de sete-copas, beber e fumar. O papel que gastei jogando batalha naval no fundão dava para reflorestar o deserto de Atacama. A besta do professor de português, em três anos, recomendou um único livro decente: O Apanhador no Campo de Centeio.

Detesto tanto escola que abandonei a faculdade na primeira semana. Cinco dias de recepção aos calouros por parte dos veteranos Libelu da ECA-USP e deu. Fui e voltei várias vezes. Assim que comecei a trabalhar, abandonei definitivamente. Voltei depois à ECA – para dar palestra para os calouros, já tive até convite pra ser banca, quá-quá-quá.

No Yazigi foram sete anos e foi útil. Mas o inglês só deslanchou lendo Avengers e traduzindo o encarte do Sgt. Pepper’s. Foi bom também para cantar bem alto aquele clássico do Alice Cooper, “School’s out for summer, school’s out forever, school’s been blown to pieces”.

Nada contra praticamente nenhum professor. Imagina, a maioria tinha muito boas intenções. Eu podia até estar naqueles anúncios da Fundação Victor Civita, ao lado de algum mestre bacana: dona Zélia, dona Aparecida, o carrasco do seu Salles. Mas é como você estar na cadeia e trombar um carcereiro gente fina: não refresca.

Pelo que percebia na minha época e percebo mais ainda agora, as melhores escolas do Brasil formam uma legião de cretinos semianalfa. As exceções se devem à influência de pais e amigos, uma ou outra escola, um ou outro professor, ou acidentes genéticos. Ninguém sabe de nada, ninguém lê, ninguém escreve direito, ninguém fala inglês, e pior: ninguém é curioso. As piores escolas, não quero nem imaginar, mas deve ser a mesma porcaria e com balas voando pra todo lado.

Minha teoria é que toda escola serve para esmagar o espírito e a imaginação do ser humano para que ele se torne um escravo zumbi da sociedade. É também um lugar para os pais estacionarem os filhos durante o horário comercial. Chega dessa idiotice.

A educação básica em qualquer lugar do mundo devia se limitar ao domínio da língua materna, da língua global (inglês!) e um mínimo da matemática. Dá pra resolver em, no máximo, quatro anos – digamos, dos 8 aos 12 anos (antes dos 8 deixa os caras brincarem, pô).

Claro, é superlegal que a garotada aprenda física, química, geografia. Também é bacana ensinar a empinar pipa, andar de skate, nadar, reconhecer as constelações e plantar jabuticabeiras.

Mas as escolas ensinam isso? Não. As escolas ensinam a decorar informações para a próxima prova. Então, chega de escola. Delenda magister (opa, ninguém me ensinou latim).

Dos 12 anos pra frente é sacanagem trancar a molecada nas salas de aula. Porque aí já é hora de enfrentar as questões fundamentais da existência. Aprender a transar, dirigir, ganhar dinheiro, cozinhar, ajudar o vizinho, se dar bem com a sogra e reconfigurar o acesso à Internet.

E o principal: aprender a se manter curioso. Quem é curioso lê e experimenta, pula muro, tem conversas estranhas, faz conexões, cria universos. Pensa com a própria cabeça. É o que interessa.

OK, existem escolas diferentes, mais experimentais, moderninhas e carinhas. Mas não comemore ainda, caro amigo de classe média alta. As alternativas ao sistema decoreba imbecilizante são tão preocupantes quanto. Domina aquele papo hippie de contato com a natureza, de isolar ao máximo a criançada da tecnologia, da mídia e da cultura pop.

Me arrepia os cabelinhos da nuca. Até porque sou da turma que aprendeu a desconfiar das “manipulações da mídia” lendo os infames e invejosos ataques de J. Jonah Jameson ao Homem Aranha. E outro dia um amigo contou que virou roqueiro por causa daquele verso do Supla, “mas eu não sou nem quero ser igual a quem me diz que sendo igual eu posso ser feliz”.

Por essas e por outras que mudei de opinião sobre o Guns N’Roses e outras bandas detestáveis. Qualquer um que escancarar para a molecada que o bacana é ser esquisito e encrenqueiro tem o meu apoio (aprendi isso com o Clash e os X-Men).

A tecnologia e a cultura pop são as grandes equalizadoras. Graças a elas é que vamos ficando mais iguais que diferentes, em cada canto do planeta, em cada ponta das classes sociais. Você já reparou que o conjunto de coisas que a gente tem que saber em 2001 é absurdamente maior que na juventude da sua avó? E quem foi que te ensinou a tirar dinheiro no caixa automático, programar o videocassete e reformatar o hard disk?

Está totalmente na cara que a rapaziada de todas as classes sociais está igualmente equipada para lidar com o mundo moderno. Especialmente no Brasil. Afinal, todo mundo por aqui vive a mesma experiência audiovisual/interativa. O moleque da periferia ouve música, assiste à televisão e joga videogame tanto quanto o filhinho de papai do condomínio. Ambos já estão com um pé dentro da economia digital. Em qualquer lugar do mundo é assim. E brasileiro, para completar, adora uma novidade e é apaixonado por televisão.

Se for para investir uma grana ensinando a rapaziada a lidar com tecnologia, recomendo subsidiar a compra de Gameboys e distribuir para a juventude carente. Qualquer mestre Pokémon está pronto para ser estagiário da Microsoft.

E a formação clássica, uma base geral de ciências, artes e humanidades, não faz falta para lidar com o mundo moderno? Não, não faz nenhuma. Talvez faça para lidar com o mundo eterno – mas aí, como dizia uma professora pernóstica que eu tive, estamos invadindo os limites do imponderável.

Não precisa saber tudo sobre tudo. Nem dá. O conhecimento total da humanidade, no momento, dobra a cada seis meses. O ritmo acelera loucamente. Um desses gênios do MIT garante que vai dobrar a cada segundo a partir de 2017. Num mundo desses, o que é formação clássica, o mínimo indispensável? Virgílio? Física de partículas?

O fato é que qualquer um que passe o fim-de-semana assistindo à Globo vai aprender mais sobre o mundo do que 99 por cento dos seres humanos que já viveram neste lindo planetinha. Enquanto isso, sociólogos e pedagogas garantem sua graninha com projetos paternalistas e esse punhetol de “resgatar a cidadania”.

Li metade da Pedagogia do Oprimido aos 18 anos, não entendi um quarto, mas gostei. Aprendi que a educação tem de ser feita em cima da vida, dos interesses, sonhos e necessidades de cada um; que ninguém ensina nada, a gente é que aprende ou não; e que educação é uma ferramenta para você descobrir qual seu lugar no mundo, descobrir quem está te fodendo e reagir.

Ouvi falar que tem uma ONG usando o método do Paulo Freire para ensinar informática para favelados, com dinheiro de multinacionais da pesada. Parece ótimo, divertido e vai acabar dando uma boa briga. Vou descobrir mais – se por acaso encontrar uma escola que presta para alguma coisa, aviso.

(Caros Amigos, Fevereiro de 2001)

Fonte

Concordo por que muita coisa é balela mesmo, eu mesmo nunca gostei de quimica e fisica… E ate hoje nao sei as maravilhosas utilizações dela na minha vida, para os babacas de plantão eu não pretendo fazer uma espaçonave Star Trek. Discordo por que apreguiça e burrice são algo coletivos, e, tao enraizados, que, se deixar por conta teremos uma Idiotocracia em dois palitos… Alexandre Frota para presidente, Fausto Silva para Consul nos USA, Hebe para a Casa Civil…

E sinceridade, o bom desta Educação de merda que nos é empurrada goela abaixo é que, muitos são enterrados mesmo com as ideias que tomam para si… outros são expulsos e conseguem tremer o mundo e fazer algo diferente.

04 junho 2009

Praça da Paz Celestial, 20 anos depois: governantes modernos adotam silêncio herdado 4/4


Financial Times
Jamil Anderlini
Em janeiro, o governo chinês libertou Liu Zhihua, um dos prisioneiros condenados por "hooliganismo" nos protestos de 1989 que culminaram com o massacre da praça de Tiananmen em Pequim.

Liu tinha 24 anos quando ajudou a organizar uma greve na fábrica na qual trabalhava na cidade natal de Mao Tsetung, na província de Hunan. A greve na empresa estatal de mais de 10.000 trabalhadores era contra a supressão violenta das manifestações pela democracia.
O crime de Liu foi incitar multidões com discursos contra o governo. Ele passou 20 anos na prisão, mesmo depois da China remover o crime de "hooliganismo" da lei em 1997.

Até hoje, o governo chinês insiste que o movimento pela democracia de 1989 foi um conflito contra-revolucionário e defende a repressão aos manifestantes pacíficos em Pequim e em outras partes da China na qual centenas - provavelmente milhares - foram mortos pelo Exército da Libertação do Povo.

Para aqueles fora da elite governante chinesa talvez seja difícil entender por que o governo insiste em dizer que lidou corretamente com o incidente, apesar da morte de manifestantes desarmados e transeuntes inocentes.

Depois do incidente, por mais de uma década, a China foi governada por homens diretamente envolvidos na decisão de enviar tanques, tais como o ex-primeiro-ministro Li Peng e outros elevados aos seus cargos como resultado do conflito, inclusive o ex-presidente Jian Zemin.

Muitos de seus sucessores no poder hoje não são diretamente associados aos eventos de 20 anos atrás, mas não demonstraram a menor inclinação pela reavaliação ou reconciliação.

Um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores reiterou recentemente a posição oficial que a repressão do movimento pavimentou o caminho para o sucesso econômico. "Os fatos provaram que o caminho socialista com características chinesas que perseguimos está no interesse fundamental de nosso povo e reflete as aspirações de toda a nação", disse Ma Zhaoxu, em resposta à questão de um repórter estrangeiro.

"Na China, os atuais líderes não têm razão para mudar o veredicto de seus predecessores, porque sua legitimidade está em sua herança", disse Bao Tong, a mais alta autoridade presa pelos protestos de 1989. Ele passou os últimos 20 anos em prisão domiciliar.

Bao alega ter organizado a publicação das memórias póstumas de Zhao Ziyang, ex-presidente do Partido Comunista que foi expulso por apoiar os protestos de 1989. Zhao morreu em 2005, tendo passado 16 anos sob prisão domiciliar, mas seu pedido pela reavaliação da "grande tragédia" do massacre de Tiananmen atingiu um ponto sensível.

Um grupo pequeno, mas determinado de intelectuais liberais questionou a insistência do governo que o massacre de manifestantes pacíficos e desarmados foi uma precondição necessária para o crescimento econômico rápido.

Em um subúrbio de Pequim no mês passado, houve um seminário clandestino depois divulgado na Internet no qual acadêmicos proeminentes pediram uma discussão pública e a reavaliação do massacre de Tiananmen. "Quais são os impactos negativos que trouxemos à nossa sociedade por causa de nosso silêncio nos últimos 20 anos?", indagou Cui Weiping, professor da Academia de Cinema de Pequim.

"Qual dano esse silêncio fez ao nosso espírito nacional e moral?"

As notícias do seminário na Internet foram rapidamente bloqueadas pelos censores.
Hoje, 20 anos depois, a imagem de um homem diante de um tanque na avenida da Paz Eterna mal é reconhecida na China e conversas sobre mudar o veredicto oficial são restritas a reuniões secretas de acadêmicos liberais. Os líderes do Partido Comunista temem que uma discussão levante questões sobre sua legitimidade.

As manifestações em 1989 se concentraram em pedidos por liberdade política e pelo fim da corrupção oficial, duas questões com as quais o partido tem dificuldade de lidar até hoje.

"Os supressores de 4 de junho tinham armas pesadas, mas não tinham noção da história", disse Xu Youyu, professor de filosofia da Academia Chinesa de Ciências Sociais, àqueles reunidos no mês passado. "Massacrar civis é rir da justiça e com esse ato os líderes perderam toda legitimidade."

Trinta presos

Estima-se que cerca de 30 pessoas ainda estejam presas por ofensas cometidas nos protestos na China em 1989. Dos libertados, ao menos oito e provavelmente mais foram presos novamente, em geral acusados de ativismo político ou de defender direitos humanos. Os condenados por sabotagem contra-revolucionária, "hooliganismo" e incêndios propositais foram condenados à morte ou à prisão perpétua.


Repressão da Praça da Paz Celestial marcou a vida de ex-soldado que virou artista 3/4

The New York Times
Andrew Jacobs
Ensopado de suor, com o coração em disparada, Chen Guang desceu a escadaria do Grande Salão do Povo da China e apontou o seu fuzil automático para a multidão de estudantes que ocupavam a Praça da Paz Celestial. Chen, à época um soldado de 17 anos que morava no interior, e os seus colegas tinham acabado de receber ordens terríveis: limpar o coração simbólico do país, mesmo que isso significasse derramamento de sangue.
"Nos garantiram que não haveria consequências legais se abríssemos fogo", recordou Chen durante uma entrevista na última terça-feira (2). "A minha única esperança era que os estudantes não resistissem".

Vinte anos após as tropas chinesas terem aberto caminho a tiros no centro de Pequim, matando centenas de pessoas e ferindo muitas outras, Chen forneceu uma descrição rara da operação militar repressiva que restabeleceu a supremacia do Partido Comunista após seis semanas de protestos de massa. Uma operação que, a seguir, para a maioria dos chineses, desapareceu dos registros em uma campanha oficial para apagar o episódio da memória.

Falando publicamente pela primeira vez - e desafiando as autoridades de segurança que ordenaram que ele permanecesse calado - Chen explicou como, em 3 de junho, os soldados do 65º Grupo do Exército, usando roupas civis, infiltraram-se secretamente no Grande Salão na borda oeste da Praça da Paz Celestial. À meia-noite, com cinturões de munição cruzados sobre o peito, eles enfrentaram os manifestantes. O ar estava repleto dos cantos de protesto dos estudantes e do som de disparos de armas de fogo. "Posso assegurar que não atirei em ninguém", afirma ele.

Atualmente ele é artista e também, até certo ponto, um contestador, que mora na periferia de Pequim. Chen diz que passou os 20 anos seguintes suprimindo as memórias daquele dia. Mas no ano passado ele começou a trabalhar em uma série de pinturas baseadas em centenas de fotografias, tiradas a pedido da sua unidade militar quando ele encontrava-se na praça. Elas incluem imagens embaçadas de manifestantes invadindo um ônibus público, estudantes exuberantes fazendo uma passeata com faixas pró-democracia e soldados destruindo em fogueiras os acampamentos abandonados.

"Durante 20 anos eu tentei sepultar esse episódio, mas quanto mais velho eu fico, mais essas coisas emergem", explica ele, enquanto fuma um cigarro atrás do outro no seu apartamento. "Creio que chegou o momento de compartilhar as minhas experiências e a minha verdade com o resto do mundo".

Ao tornar públicas as suas experiências através da sua arte, Chen corre o risco de provocar as autoridades, que estão ansiosas por suprimir o debate sobre o incidente e apagar o 4 de junho da memória pública. Nas últimas semanas, à medida que se aproximava o aniversário da operação repressiva, a polícia deteve dissidentes que ela temia que pudessem atrair atenção para o 4 de junho. Na primavera passada, Zhang Shijun, um ex-soldado do norte da China, foi preso após ter dito à agência de notícias "Associated Press" que se arrependia do papel que desempenhou no esmagamento dos protestos pela democracia.

No verão passado, após as galerias locais terem se recusado a exibir os seus quadros, Chen as colocou na Internet. Porém, em uma questão de horas as imagens foram retiradas da web.

Chen, um homem franzino de voz suave e sem emoção, afirma não estar preocupado com as consequências caso se pronuncie, ainda que tenha recebido advertências para que não mostrasse os seus quadros para ninguém. "Não estou fazendo nada de errado. Só estou falando sobre as minhas experiências", diz ele.

Chen, que cresceu na província rural de Henan, como filho de um gerente de fábrica, deixou a escola secundária aos 15 anos por ser, segundo ele diz, um mau aluno. Ele queria ser artista, mas todos lhe diziam que essa não seria uma maneira prática de ganhar a vida. "A pressão da minha família tornou-se tão intensa que eu decidi me alistar no exército", conta ele. Como para se alistar é necessário ter pelo menos 18 anos, ele mentiu a respeito da idade.

Menos de um ano depois, em meados de abril, Pequim estava conflagrada pelos protestos desencadeados pela morte de Hu Yaobang, o líder do Partido Comunista que foi obrigado a renunciar para assumir a responsabilidade por aquilo que alguns líderes rivais consideravam reformas econômicas e políticas descuidadas.

Isolado no seu quartel que ficava três horas ao norte da cidade, Chen contou que ele e os outros soldados pouco sabiam a respeito dos protestos. "Só sabíamos aquilo que os oficiais militares nos diziam: que indivíduos ruins estavam tentando destruir a nação e que isso estava sendo feito com a morte de mártires", recorda o ex-soldado.

Em 19 de maio, eles receberam ordens de entrar na cidade. Mas a rota estava bloqueada por multidões de estudantes e moradores de Pequim que apoiavam os manifestantes. Durante dois dias as tropas ouviram explicações de manifestantes e foram alimentadas por eles, enquanto os líderes militares do país discutiam o que fazer.

No terceiro dia, a unidade retirou-se, mas Chen diz que o episódio o deixou confuso. "Nos disseram que aqueles eram indivíduos ruins, mas os estudantes pareciam ser honestos e francos", conta ele.

Após passarem quase duas semanas isolados no quartel, os soldados receberam trajes civis e ordens para infiltrarem-se no Grande Salão em grupos de dois ou três. Chen conta que essa missão foi bem mais enervante. Ele disse que foi o único passageiro em um ônibus com o dobro do comprimento normal cujas cadeiras foram removidas para dar lugar a armas e munições.

Famintos e apavorados, os soldados, em sua maioria adolescentes, aguardaram no interior do Grande Salão enquanto os comandantes militares, observando a situação de uma janela de segundo andar, elaboravam a estratégia de ataque. Por volta de meia-noite, a energia elétrica da praça foi cortada e os soldados desceram as escadas em direção à rua. A fim de assustar os estudantes, fazendo com que fugissem, os homens foram instruídos a atirar para o alto. A tática teve o efeito desejado.

Por volta das 2h, dezenas de milhares de estudantes choravam e cantavam a Internacional aglomerados na praça. Pouco tempo depois, veículos blindados entraram na área. Um deles investiu contra a Deusa da Democracia, uma estátua de papel machê que estudantes de arte tinham feito alguns dias antes. "Foram necessários três golpes para que a estátua caísse", contou Chen.

A maioria das mortes, segundo várias testemunhas do incidente, ocorreram nas ruas que levavam até a praça, e não na praça em si.

Menos de um ano após a operação repressiva, Chen inscreveu-se em uma escola militar de artes, e a seguir conseguiu ser transferido para a Academia Chinesa de Belas Artes. Em 1995, ele deixou o exército. Naqueles anos, Chen sentia-se atraído pela fotografia e pelas artes dramáticas, e criou um trabalho lúrido e provocante.

Ele passou meses filmando prostitutas e tirou fotos de si próprio fazendo sexo na Grande Muralha da China. Ele também produziu uma série de fotos de conteúdo sexual explícito de si mesmo posando com um velho intelectual que foi perseguido pelo Partido Comunista. "Eu desejava me retratar como um indivíduo que tinha uma conexão visceral com a tumultuada história da China", disse Chen.

Embora nenhum dos seus trabalhos iniciais diga respeito diretamente à Praça da Paz Celestial, ele afirma que grande parte deles foi influenciada pelo trauma que teve lá. "Mesmo se for difícil perceber uma conexão, tudo o que faço é motivado por aquela experiência", afirma. Chen disse que viu soldados ensanguentados devido a pedradas e um manifestante agredido por soldados com coronhadas de fuzil na cabeça.

Mas a imagem que mais o assombra é bem mundana. Quando limpava a praça naquela manhã, ele viu uma bela mecha de cabelo em forma de rabo de cavalo em meio aos restos de bicicletas esmagadas e cobertores embolados. A mecha de cabelos, amarrada com uma tira roxa, foi cortada de forma grosseira, talvez em um ato de protesto, mas possivelmente como resultado de algo mais sinistro. "Foi uma imagem chocante. Não consigo deixar de pensar naquele cabelo e no motivo pelo qual ele foi cortado", afirmou Chen.

Nos últimos meses, ele produziu uma série de auto-retratos. Em cada um deles, o seu pescoço, ombros e peito estão cobertos de fragmentos de cabelo. Ele corta o próprio cabelo uma vez a cada um ou dois anos, e depois armazena o material no seu apartamento. Até agora ele encheu o equivalente a 24 latas de café, como matéria-prima para um futuro projeto.

Ele diz que faz os seus trabalhos mais intensos todo mês de junho, mais ou menos na mesma ocasião em que é atingido por uma terrível dor de estômago. Chen conta que trata-se da mesma dor que sentiu pela primeira vez na praça.

Foi por volta desta época no ano passado que Chen decidiu rever as fotos que tirara duas décadas antes. Pouco antes do início do ataque, o comandante de Chen deu a ele uma câmera e 20 rolos de filme e lhe ordenou que tirasse fotos à vontade. Quando voltou para entregar o filme ele escondeu três rolos no bolso.

Ele diz que as fotografias o inspiraram a falar sobre um assunto que poucos na China se importam - ou ousam - em abordar. As suas pinturas são retratos artísticos da história, insiste ele, e não expressões do certo ou do errado. As imagens são em grande parte destituídas de emoções, embora Chen as tenha produzido em um tom de azul lavado e melancólico.

"Não tenho arrependimento por aquilo que fiz", afirma Chen. "Mas sinto que essa tragédia poderia ter sido evitada. Talvez se começarmos a falar sobre esse fato possamos impedir que ele volte a ocorrer".

Xiyun Yang contribuiu para esta matéria.

Ex-ativistas ainda esperam que a verdade virá à tona 2/4

Duas décadas após o massacre na Praça Tiananmen em Pequim, o evento permanece um tabu na China. Os ex-ativistas pró-democracia estão espalhados por todo o mundo e esperam que a verdade sobre o que aconteceu naquele fatídico 4 de junho venha algum dia à tona.

Quando o sangue foi lavado do asfalto e as esperanças de uma China mais livre e justa se dissiparam, Han Dongfang montou em sua bicicleta e deixou a cidade. Era 4 de junho de 1989, o domingo em que o Partido Comunista chinês removeu os manifestantes da Praça Tiananmen de Pequim e, segundo os números oficiais, atirou contra 319 deles. Outras fontes citam até 3 mil mortos.

O eletricista ferroviário de 25 anos tinha se dedicado a uma missão especial. "Eu queria percorrer o país e falar com operários e produtores rurais", diz Han. Cerca de um mês antes, seus amigos anunciaram, na Praça Tiananmen, que o tinham escolhido como porta-voz de seu sindicato independente.

Dez dias depois, em algum lugar na província de Hebei, ele viu sua foto na televisão - como um "agitador e contrarrevolucionário", sendo procurado pelas autoridades. Han ficou chocado, mas se recordou da promessa que fez aos líderes do Sindicato Autônomo dos Trabalhadores de Pequim antes de ser nomeado seu líder. "Se chegar minha hora de ir para a prisão, eu não vou esperar que me peguem, mas vou me entregar." Han montou em sua bicicleta e voltou para Pequim, onde se apresentou na sede da polícia - e foi enviado para a prisão pelos 22 meses seguintes.

Por quase sete semanas na primavera chinesa de 1989, estudantes ocuparam a Praça Tiananmen, onde fizeram manifestações em prol de suas próprias organizações independentes e contra autoridades corruptas do partido. O que começou como um movimento de protesto inofensivo se transformou em uma revolta contra as pessoas no poder - até que os membros idosos do partido que cercavam o patriarca do Partido Comunista, Deng Xiaoping, lembraram de algo que o ex-líder chinês Mao Tsé-tung escreveu: "O poder político vem do cano de uma arma". O secretário-geral do Partido Comunista, Zhao Ziyang, um homem que poderia ter sido o Gorbachev da China e que se opunha fortemente ao uso de força militar, foi primeiro repreendido e depois colocado sob prisão domiciliar.

'Ímpeto para reforma'

Os protestos "não eram uma ameaça ao nosso sistema político", disse Zhao antes de sua morte em 2005, após passar 16 anos sob prisão domiciliar. Ele até mesmo acreditava que os protestos foram úteis, e que podem ter dado à China um "ímpeto para reforma, até mesmo mudança política".



O livro de memórias de Zhao, intitulado "Prisioneiro do Estado", gravado secretamente em 30 fitas e contrabandeado para fora do país, foi publicado postumamente nos Estados Unidos e Hong Kong. Ele oferece um raro vislumbre do funcionamento interno do Partido Comunista da China. Zhao estava em sua casa, não distante da Praça Tiananmen, quando se desenrolou o banho de sangue. Ele escreveu: "Na noite de 3 de junho, enquanto estava sentado no pátio com minha família, eu ouvi fogo pesado. Uma tragédia que chocaria o mundo não foi impedida e agora estava acontecendo".

O que aconteceu na Praça Tiananmen foi marcado a ferro na memória coletiva do mundo, completa com imagens inesquecíveis do acerto de contas brutal de Pequim com os críticos indefesos do regime. Quando os tanques entraram na cidade vindos do oeste, os manifestantes já estavam exaustos pelo calor e por uma greve de fome. Algumas poucas mangueiras de incêndio bastariam para expulsá-los da praça.

A China se tornou um país diferente desde então. O Partido Comunista concedeu aos chineses liberdades pessoais e econômicas antes desconhecidas. Mas um tabu ainda paira sobre a data de 4 de junho. Ninguém foi responsabilizado pelo massacre. Os livros oficiais de história às vezes mencionam a data, mas quando o fazem é ligada a um "incidente". Muitos jovens nem mesmo sabem o que aconteceu no coração de Pequim em 1989, porque tanto seus pais quanto seus professores não dizem nada a respeito do massacre.

Ativistas de direitos humanos em Hong Kong estimam que cerca de 30 pessoas permanecem na prisão como "líderes" e "arruaceiros". Das pessoas-chave restantes espalhadas pelo mundo, muitas se recolheram na vida privada e algumas se tornaram religiosas.

Casas de chá e oficinas

O eletricista ferroviário Han Dongfang, que atualmente mora em Hong Kong, contraiu tuberculose na prisão e perdeu um pulmão. Ele posteriormente foi autorizado a viajar para os Estados Unidos para tratamento, após líderes sindicais americanos terem se unido em seu apoio. Ele não está mais disposto a falar sobre seu tempo na prisão. "Aquele capítulo da minha vida acabou", ele diz.

Han, um homem com traços delicados e vestido de forma casual mas elegante, fala bem inglês. Ele está sentado em um escritório na Jervois Street, em Sheung Wan, um bairro agitado de casas de chá, oficinas e lojas estreitas. Impedido de voltar para Pequim, Han trabalha para seu país em Hong Kong. Seu "China Labour Bulletin" informa as condições nas fábricas, em canteiros de obras e nas minas na República Popular. Ele apresenta um programa da Rádio Ásia Livre, fala ao telefone com membros de sindicato na China sobre seus direitos e assegura representação legal.

O ex-revolucionário se tornou um homem dedicado a pequenos passos. "Não há sentido em tentar voar quando não se tem asas", ele diz. Ele abandonou a idéia de estabelecer um sindicato independente na China. "Meu sonho é um sistema que permita a negociação entre aos trabalhadores e empregadores. Sindicatos independentes então se desenvolveriam automaticamente."

O sacrifício dos estudantes valeu a pena? "Em 1989, eu nunca ouvi falar de greves", diz Han. "Elas são comuns hoje. Foi o início e temos que continuar."

Wu'er Kaixi, 41 anos, também fez parte do movimento de protesto de 1989. Um membro da minoria uigur, ele estava estudando para se tornar professor na época. Após a morte do popular ex-líder do partido, Hu Yaobang, em meados de abril de 1989, Wu'er e outros estudantes formaram a União Autônoma dos Estudantes de Pequim.

Um mês atrasado

Foi um passo extraordinariamente ousado na época. Após uma greve de fome, e ainda usando as roupas hospitalares, ele apareceu no Grande Salão do Povo, onde o primeiro-ministro Li Peng estava se encontrando com os estudantes enfurecidos. Quando o primeiro-ministro pediu desculpas pelo atraso, Wu'er o interrompeu rudemente, dizendo: "O senhor não está apenas cinco minutos atrasado, está um mês inteiro". Ele agora vive em Taiwan, onde ele e sua esposa taiwanesa têm dois filhos. Wu'er, que agora tem um passaporte taiwanês, engordou e agora corta o cabelo mais curto.

Mesmo 20 anos depois, o Partido Comunista ainda o pune por ter humilhado um alta autoridade diante de câmeras ao vivo. Os pais de Wu'er não são autorizados a deixar a China. Eles nunca viram seus netos, exceto em fotos, e a única comunicação com eles é um telefonema ocasional pela Internet. O próprio Wu'er, apesar de ter frequentado uma universidade americana, nunca realmente conseguiu se estabelecer profissionalmente, apesar de agora trabalhar para uma empresa de investimentos americana.

'Nós queremos a verdade'

Pouco antes do avanço das tropas em 4 de junho, diz Wu'er, um dos filho de Deng Xiaoping enviou para ele uma mensagem para alertar que os protestos terminariam em derramamento de sangue. "Eu perguntei a ele: 'O que você pode nos oferecer se nos retirarmos da Praça Tiananmen?'" Ele não obteve resposta.

Todavia, ele tentou convencer seus colegas a deixarem a praça, mas sem sucesso. Após o massacre, Wu'er fugiu para o sul, onde uma rede de dissidentes e empresários conseguiu levá-lo para Hong Kong. De lá, ele viajou para os Estados Unidos.

Wu'er planejava se encontrar com ex-ativistas em Washington às vésperas do 20º aniversário do massacre da Praça Tiananmen nesta semana. Ele nunca abandonou seu sonho de promover reformas políticas na China: Ele disse: "Não é possível viver no exílio sem esperança".

Enquanto isso, em Pequim, a ex-professora de filosofia Ding Zilin tenta manter viva a memória do massacre. Apesar de seu cabelo grisalho, ela se move com agilidade e elegância. A professora de 72 anos é a mais proeminente das "mães de Tiananmen". Mesmo hoje, ela luta para conter as lágrimas quando fala sobre os eventos.

'Viveu como um homem de verdade'

Ding, que vive no noroeste da capital chinesa, ainda é autorizada a receber visitantes, mas nem sempre é autorizada a deixar seu apartamento. Ela parece exausta e preocupada com seu marido, que está doente. "Em 26 de outubro do ano passado, a polícia realizou uma batida repentina em nosso apartamento. Depois daquilo meu marido teve um ataque cardíaco e ficou em coma por dois dias." Uma pintura a óleo de seu filho, Jiang Jielian, está pendurada na parede. Ele era um estudante de 17 anos quando morreu. Uma foto o mostra segurando uma placa nas mãos que diz: "Vocês cairão e nós permaneceremos". Uma urna de madeira contendo suas cinzas se encontra sob a foto. O pai gravou na urna: "Neste breves 17 anos, você viveu como um homem de verdade".

Na noite de 3 de junho, Jiang Jielian e alguns poucos amigos foram de bicicleta até a Praça Tiananmen. Diplomatas, jornalistas, policiais e professores já tinham se juntado ao movimento estudantil àquela altura, que não mais podia ser caracterizado como uma rebelião de jovens encrenqueiros, como o Partido Comunista continua insistindo até hoje.

Ding ainda era um membro dedicado do partido àquela altura. Mas em 4 de junho, quando as autoridades do partido se recusaram a divulgar os nomes das vítimas e as circunstâncias de suas mortes, ela e seu marido deram as costas ao Partido Comunista. "Nós queremos a verdade. Nós queremos indenização. Nós queremos que os responsáveis sejam julgados", ela diz. Ela publicou três livros, documentou meticulosamente as vidas das muitas vítimas e, juntamente com outras mães, apresentou repetidas petições à liderança do partido.

"O papel da China se tornou mais forte no mundo nos últimos anos", diz Din. Infelizmente, ela acrescenta, o governo agora deve dar menos atenção às críticas do exterior, especialmente desde que a campanha de educação patriótica teve início em 1989 e agora está dando frutos. Os estudantes de hoje, diz Ding, declaram sua solidariedade ao Partido Comunista quando, como aconteceu recentemente durante os Jogos Olímpicos, as críticas estrangeiras se tornam particularmente fortes. Ela está decepcionada com a nova geração. "Eles só se preocupam consigo mesmos e são materialistas. Eles boicotam bens japoneses, mas fazem fila diante do consulado americano para obtenção de vistos para a América."

Agentes da inteligência ficam espreitando diante de seu prédio. Um deles, que grava em vídeo os visitantes, é jovem e tem uma leve semelhança com o filho de Ding. Ele bem que poderia ter sido um daqueles que estavam protestando na Praça Tiananmen há 20 anos.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte

O Massacre Completa 20 anos. 1/4

Ele foi responsável por evitar um banho de sangue ainda maior em 4 de junho de 1989. Um dos dois líderes que negociaram a retirada dos manifestantes da praça da Paz Celestial, o professor Zhou Duo, 62, continua a pagar por sua participação nos protestos.
Zhou ficou preso por um ano e nunca mais trabalhou -foi aposentado compulsoriamente da Universidade de Pequim, onde lecionava sociologia.
Tentou várias vezes uma reintegração ao cargo e vê as portas se fecharem quando seu passado militante é descoberto.
Ele tentou fazer uma greve de fome em um parque da cidade hoje, para exigir do governo investigação de responsabilidade de quem mandou os tanques para a praça -e, segundo ele, para exigir sua liberdade de expressão. Mas ficou em prisão domiciliar desde sábado, poucos dias depois de falar comigo _ e foi retirado de Pequim pela polícia. Talvez só volte na semana que vem.

DESPOLITIZADOS

Já tivemos autoritarismo nas dinastias imperiais, totalitarismo na era de Mao, e voltamos ao autoritarismo. O país mudou muito nos últimos 30 anos, é mais livre. Se você não mexe com o governo, você é livre. Ninguém controla você se não criticar o governo. O governo quer que os cidadãos foquem mais em seus próprios interesses, em suas carreiras e fiquem longe da política. A estratégia funcionou. A repressão de 4 de junho deu uma mensagem poderosa de quanto é perigoso se meter com política aqui. Muita gente foi presa. A propaganda, a educação e a mídia fizeram o resto. Como alternativa, há muitas maneiras de se ficar rico neste país. E os governos e empresas ocidentais também cooperaram para o esquecimento.

JANTAR COM A POLÍCIA
A polícia me visita com frequência, mas posso viajar ao exterior e pela China. Na semana passada, fui convidado a jantar por agentes de segurança do meu bairro. Os policiais pediram gentilmente que eu não desse entrevistas a jornalistas estrangeiros dentro do meu apartamento, por isso estou conversando com você neste café. "Você deve estar muito ocupado ultimamente", brincou um dos policiais.

TANQUES
Éramos cerca de 5.000 pessoas na praça na noite de 3 de junho. Uma semana antes, o número foi encolhendo quando as pessoas começaram a notar que os militares invadiriam o centro de Pequim. O massacre não aconteceu na praça, eu estava lá. Os tanques e os militares foram matando nos bloqueios nas entradas da cidade e nas avenidas rumo à praça da Paz Celestial. Começamos a ouvir tiros às 2h da manhã.

SEM NEGOCIAÇÃO
Às 3h da manhã, nós éramos quatro professores e tínhamos que convencer os estudantes a deixar a praça. Liu Xiaobo [autor de um manifesto pró-democracia em dezembro, preso desde então] e eu fomos falar com Chai Ling, a líder dos estudantes. Ela se negou a nos ouvir e disse que não entregaríamos a praça de graça. Havia civis armados, ameaçando atirar quem quisesse abandonar a praça, "os traidores".
Queríamos pedir pelos alto-falantes para os estudantes se retirarem, recolher e entregar as armas e depois negociar com os militares. Todas as luzes da praça se apagaram às 4h.

INSTANTES FINAIS
Não conseguimos nada disso, então pedi que Hou Dejian me acompanhasse a negociar com os militares. Ele era um cantor famoso, não teriam coragem de atirar nele. Pedimos carona a militares que tinham uma van. Eram três da manhã, escuridão total, nunca senti tanto medo na minha vida. Não sei se voltaria com vida. Parecia que caminhava rumo ao inferno.
Os militares disseram que só precisariam negociar com os superiores. Não havia mais como parar os tanques. Deram meia hora para que nos retirássemos.
Deixei a praça com outros amigos às 6h da manhã, vários grupos estavam saindo pelo sudeste da praça. Havia corpos e sangue na avenida. Pelos meus cálculos, morreram mil pessoas. Da praça, fui para a minha casa. Fui preso no caminho.

NÃO SÓ DEMOCRACIA
Estudantes queriam liberdade, democracia, reforma universitária. Os mais jovens pediam mais fundos para as universidades, os mais velhos reclamavam de inflação, de desemprego e de corrupção, que era apenas uma pequena fração da que acontece hoje.
Não era governo versus estudantes. Havia professores, médicos, funcionários públicos, idosos. E o governo estava dividido. O secretário-geral, Zhao Ziyang, queria mais reformas, e a velha guarda queria acabar com o protesto. O grupo mais radical dos estudantes, liderado por Chai Ling, também não queria conversa.

DERROTA MODERADA
Os dois grupos moderados perderam força, e a linha dura dos dois lados prevaleceu. E veio a tragédia. Estudo agora por que, na história da China, os moderados sempre perdem.
Na cultura política chinesa, consenso e negociação são vistos como covardia, fraqueza.

Foto: Ben Marcom/Folha Imagem