13 janeiro 2010

Entre Poemas e Mentiras



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Metade
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
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Mentir
Noel Rosa

Mentir, mentir
Somente para esconder
A mágoa que ninguém deve saber
Mentir, mentir
Em vez de demonstrar
A nossa dor num gesto ou num olhar
Saber mentir é prova de nobreza
Pra não ferir alguém com a franqueza
Mentira não é crime
É bem sublime o que se diz
Mentindo para fazer alguém feliz
É com a mentira que a gente se sente mais contente
Por não pensar na verdade
O próprio mundo nos mente, ensina a mentir
Chorando ou rindo, sem ter vontade
E se não fosse a mentira, ninguém mais viveria
Por não poder ser feliz
E os homens contra as mulheres na terra
Então viveriam em guerra
Pois no campo do amor
A mulher que não mente não tem valor
Saber mentir é prova de nobreza
Pra não ferir alguém com a franqueza
Mentira não é crime
É bem sublime o que se diz
Mentindo para fazer alguém feliz

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Poema
Cazuza

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo
Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

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Interpretem como desejarem, em particular certas particularidades continuarão mesmo em silêncio, como por exemplo: "o por que de tal letra? por que tal música se adequa a você? algo o incomoda?" Escrevi ou escrevo apenas por que desejo dar a luz do mundo aos meus incomodos, se há mágoas ou mesmo tristezas, não posso fazer nada, e nem pretendo pedir desculpas, mas respondendo, não existe mágoas, rancor ou mesmo tristezas... Apenas um singelo desopilar... Isso por que me disseram ontem que eu estava em profunda depressão por simplesmente ficar quarenta minutos deixando a pessoa falando mais que sei lá o que pelo msn, e deixando visivel as músicas que estava a escutar no player... A questão é: estou apenas no meu instante reflexivo.
Prometo em breve voltar a esvrever as minhas jocosidades e acidez que marcas minhas os são.


Ileniel Nunes
ileniel@hotmail.com

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