25 novembro 2009

Será que fizemos escola? Adoramos ser iludidos mesmo, esta é a verdade.

Não vou nem comentar....

A vergonha é tamanha, pensei estar lendo sobre o brasil, mas me deparo com um texto, onde me faz lembrar, que adoramos viver de ilusões, resolvi ser bem extenso em duas matérias duas matérias que parecem incongruentes... Mas para quem for inteligente, entenderá o que eu digo!


Ileniel Nunes



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19/11/2009

A luta desesperada de Medvedev contra a corrupção

Der Spiegel
Uwe Klussmann e Matthias Schepp
Não é todo dia que um membro graduado do círculo mais interno do poder escreve um livro revelador no qual ele descreve o fim do próprio sistema que criou. E isso explica por que um livro, escrito sob um pseudônimo, mas que acredita-se ser obra de um certo Vladislav Surkov, está causando furor em Moscou. Surkov é o principal ideólogo do Kremlin ou, conforme o descreve o general aposentado da KGB, Alexei Kondaurov, seu ex-parceiro político, um "gênio do cinismo".

O romance, "Okolonolya" ("Próximo a Zero"), está sendo classificado como "ficção de gangsterismo", mas os gângsters políticos descritos nas suas
112 páginas são muito reais. O autor pinta um quadro chocante da capital russa, com o seu comércio de "escritórios, medalhas e bônus". É um local no qual as verbas do governo são sugadas e injetadas nos bolsos de mulheres, amantes e sobrinhas. "A corrupção e o crime organizado, ao lado das escolas e da polícia, são os pilares da ordem social", explica um oficial do serviço de inteligência que é colega do personagem principal.

Provavelmente não existe nenhum outro país europeu - nem a Itália de Silvio Berlusconi, nem a Romênia pós-comunista - no qual os cargos políticos e a riqueza estejam tão fortemente entrelaçados quanto na Rússia. "Esse mal criou raízes profundas no nosso país e assumiu formas particularmente repugnantes", disse o presidente Dmitry Medvedev em uma entrevista a "Der Spiegel" no início de novembro. O suborno e o nepotismo são encontrados em todas as estruturas públicas, desde o sistema de saúde até os tribunais. No ano passado, a Rússia ficou empatada com o Quênia, Bangladesh e a Síria no 147º lugar na Lista de Percepção da Corrupção elaborada pela Transparência Internacional.

"Desde a liderança política até os governos locais, nós estamos emaranhados na corrupção", afirmou Medvedev, acrescentando que este mal tornou-se bastante aceito pela população russa. "Nos países de vocês, na Europa, os motoristas não retiram automaticamente as carteiras dos bolsos ao serem parados por um policial de trânsito", disse o presidente aos jornalistas. Segundo Medvedev, a ideia de que o suborno se constitui em crime precisa ser assimilada pelos cidadãos.

Prisões arbitrárias
Alguns dias depois, um perturbado policial da cidade portuária de Novorossiysk, no Mar Negro, fez denúncias na internet. Alexei Dymovsky, da divisão de combate ao narcotráfico, denunciou os depoimentos obtidos por meio de extorsão, provas forjadas e prisões arbitrárias. Ele escreveu que gravou 150 horas de declarações comprometedoras feitas por seus colegas e superiores, e disse que desejava falar com o primeiro-ministro Vladimir Putin em pessoa. Pouco depois, um ex-policial da República de Komi acrescentou os seus comentários, escrevendo a respeito "das investigações fabricadas contra cidadãos inocentes". Aquele foi um raro exemplo de funcionários públicos rebelando-se publicamente contras os seus superiores e as condições em que se encontram as instituições policiais na Rússia. Dymovsky foi imediatamente demitido.

Segundo a pesquisa, os únicos indivíduos que os russos temem mais do que a própria polícia são os terroristas. Somente 30% da população acredita que os policiais respeitam a lei. De fato, a corrupção permeia todos os aspectos da vida cotidiana na Rússia, o país de maior área territorial do mundo. Um cidadão russo precisa pagar propina para marcar uma cirurgia com um bom médico, comprar para a filha preguiçosa as notas escolares necessárias para que ela seja aceita em um curso universitário ou convencer funcionários públicos entediados a prorrogar o prazo de validade de seu passaporte para uma viagem planejada de férias.

Os empresários evitam inspeções constantes por parte do corpo de bombeiros e das agências de saúde pública e meio ambiente entregando envelopes com dinheiro a funcionários públicos. Segundo um estudo feito pela Fundação Ciência da Informação para a Democracia, com sede em Moscou, todos os anos, na Rússia, paga-se um total de US$ 319 bilhões
(R$ 548 bilhões) em propinas. Com uma população de
142 milhões de habitantes, isso equivale a uma média de mais de US$ 2.000 (R$ 3.400) por pessoa.

5% para as autoridades
Em um pequeno escritório no subsolo, perto do Kremlin, Vladimir Ryzhkov, um político oposicionista e ex-membro do parlamento russo, está compilando uma lista de casos em que burocratas arrancaram propinas de companhias. Em Krasnoyarsk, uma cidade siberiana de cerca de um milhão de habitantes, uma companhia que fabrica móveis teve que desembolsar dezenas de milhares de rublos em propinas para que funcionários do governo certificassem os seus produtos. Em Izhevsk, uma cidade menor situada entre o Rio Volga e os Montes Urais, uma companhia de construção civil paga uma taxa ilegal de 5% às autoridades por cada contrato firmado.

Funcionários públicos e políticos ocultam estes seus lucrativos negócios usando parentes e laranjas. "A maioria dos burocratas faz negócios por fora", acusa Ryzhkov. A construção de alguns quilômetros de novas estradas custa ao contribuinte russo quatro vezes mais do que na Europa.
Isso se deve em parte aos invernos rigorosos do país, mas, também, em grande escala, ao fato de o pagamento de propinas ser a regra, e não a exceção, em se tratando de concessão de contratos pelo governo.

Para Ryzhkov, a separação entre o poder político e a corrupção econômica não passa de conversa fiada. "Se a revista de negócios 'Forbes'
publicasse uma lista honesta dos russos mais ricos, a metade da lista seria composta por ministros e outras autoridades governamentais", afirma Ryzhkov.

Processos contra jornalistas
Como proprietária de uma companhia de construção civil, a mulher do prefeito de Moscou, Yury Luzhkov, amealhou uma fortuna de bilhões de dólares. O prefeito, que está no cargo há 17 anos e é também um membro graduado do partido de Putin, o Rússia Unida, explica que o sucesso da mulher se deve aos seus excepcionais talentos empresariais. Luzhkov deve ter percebido esses talentos quando a sua atual mulher ainda era a sua secretária. O casal tem movido com sucesso processos judiciais contra os jornalistas que acusam os dois de praticar nepotismo.

Como o povo russo sabe que os seus líderes continuam a encher os bolsos com dinheiro público, o apelo de Medvedev por uma reforma moral de pouco adianta no âmbito da sociedade como um todo. Para que se perca toda a esperança, basta observar mais detalhadamente o parlamento do país, a Duma. Ao contrário do parlamento alemão, ou Bundestag, a Duma não é um conjunto de advogados e funcionários públicos, mas sim um clube de celebridades e milionários. Além de ex-atletas famosos, as cadeiras do parlamento russo estão preenchidas pelos novos ricos e, ocasionalmente, por sombrios "bisnesmeni". É um segredo de Polichinelo o fato de que muitas cadeiras nos parlamentos custaram aos seus donos milhões de dólares.

Após o colapso da União Soviética e o período de capitalismo descontrolado da década de 90, uma ordem social com traços feudais estabeleceu-se na Rússia; um sistema no qual os líderes políticos comportam-se como senhores feudais no controle das suas propriedades.

O primeiro-ministro Putin arrumou empregos para amigos e aliados em companhias governamentais recém-criadas. O seu colega, Medvedev, ansioso para expandir a sua própria base de poder, está atualmente perseguindo esse indivíduos. Em um caso específico, a procuradoria-geral investigou a Companhia Russian Venture, que teria embolsado irregularmente cerca de 600 milhões de euros (R$ 1,54 bilhão), o que resultou na renúncia do diretor da empresa.

Reino dos ricos
Mais de 100 milhões de euros (R$ 257 milhões) em verbas da companhia estatal de aviões OAK e das suas subsidiárias foram desviados para a aquisição de companhias de construção naval no leste da Alemanha, que foram subsequentemente privatizadas por meio de companhias offshore. Os estaleiros, nos portos bálticos de Warnemünde e Wismar, faliram. A procuradoria pública de Moscou está atualmente investigando o caso.

Membros da Duma relatam casos de ministros que só aprovaram verbas para a modernização de aeroportos de províncias depois que companhias associadas a eles receberam contratos de construção antecipadamente, sem licitação.

Até mesmo o Partido Comunista encontrou o seu nicho no novo capitalismo russo e no reino dos ricos. Enquanto o presidente do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, criticava incansavelmente a "legitimidade do capitalismo crítico" no "Pravda", o jornal do partido, os seus colegas na Duma obtinham grandes vantagens do sistema. O seu colega de partido Igor Edel é uma prova viva de que é possível atacar o "capitalismo burocrata" e, ao mesmo tempo, beneficiar-se dele. Edel, um ex-comerciante atacadista, administra uma companhia estatal de construção de estradas na área de Moscou. Ele é também membro do parlamento.

Muito tarde para consertar?
Os jornais de Moscou de vez em quando publicam matérias sobre as disparidades entre os salários dos políticos e os seus dúbios rendimentos secundários. Em um determinado caso, Lyubov Sliska, o vice-presidente da Duma, que ganha um salário mensal equivalente a 1.600 euros (R$ 4.100), declarou que 85 mil euros (R$ 218 mil) em dinheiro vivo, bem como relógios e joias caros, foram levados da sua casa em um roubo ocorrido em 2006. E, conforme foi anunciado pelo respeitado jornal empresarial "Wedomosti", o presidente tchetcheno Ramzan Kadyrov foi visto usando um relógio de 200 mil euros (R$ 514 mil), enquanto que o vice-prefeito de Moscou, Vladimir Resin, aparentemente exibe um magnífico relógio DeWitt Pressy Grande Complication - que custa cerca de 700 mil euros (R$ 1,8 milhão). Os relógios de 7.000 e 21 mil euros (R$
18 mil e R$ 54 mil) usados, respectivamente, pelo primeiro-ministro Putin e o presidente Medvedev, são, em comparação, francamente modestos.

Medvedev está introduzindo novas leis para o controle da corrupção - na tentativa de acabar com a autêntica zombaria que esta prática se constitui para com os seus planos de reforma e modernização. Ele está aposentando governadores que durante anos administraram os seus distritos como se fossem senhores feudais e está exigindo que os ministros e autoridades do governo revelem os seus bens.

Medvedev é também o patrão de Vladislav Surko, o vice-chefe da administração do Kremlin, e o suposto autor do romance "Próximo a Zero".
O livro-revelação termina com a sentença otimista: "Não é muito tarde para consertar a situação". Será que não?

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Ps: Juro que achei ser o Brasil....
Tão igual!

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25/11/2009

"Pai dos Pobres" provocou milagre econômico no Brasil

Der Spiegel
Jens Glüsing
O Brasil é visto como uma história de sucesso econômico e sua população reverencia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um astro. Ele está na missão de transformar o país em uma das cinco maiores economias do mundo por meio de reformas, projetos gigantes de infraestrutura e explorando vastas reservas de petróleo. Mas ele enfrenta obstáculos.
Elizete Piauí aguarda pacientemente por horas à sombra de uma mangueira. Ela calça sandálias de plástico e veste um short largo sobre suas pernas finas. A 40ºC, o ar tremula neste dia incomumente quente na Barra, uma pequena cidade no sertão, o coração do Nordeste brasileiro. Mas Elizete não se queixa, porque hoje é seu grande dia, o dia em que se encontrará com o presidente, que está trabalhando para fornecer água encanada para sua casa.

O barulho de um helicóptero sinaliza sua chegada. A aeronave branca sobrevoa a multidão antes de pousar. Uma escolta de batedores acompanha o presidente até a cerimônia.

Lula sai da limusine vestindo uma camisa branca de linho e um chapéu militar verde. Ignorando os dignitários locais em seus ternos pretos, Lula segue direto para a multidão atrás de uma barreira de segurança. "Lula, Papai!", chama Elizete. Ele a puxa até seu peito e aperta a mão de outros na multidão, permitindo que as pessoas o toquem, façam carinho e o abracem. Gotas de suor correm pelo seu rosto corado enquanto pessoas o puxam pela camisa, mas Lula se deixa embeber na atenção. Ele se sente em casa aqui, em uma das regiões mais pobres do Brasil.

O presidente passa três dias viajando pelo sertão. Ele conhece a rota. Ele veio à região pela primeira vez há 15 anos, em campanha, viajando de ônibus e ficando hospedado em locais baratos. Ele fazia paradas em todas as praças, sete ou oito vezes por dia, geralmente realizando seus discursos na traseira de um caminhão. Sua voz geralmente ficava rouca e fraca à noite e ele tinha que trocar sua camisa suada até 10 vezes por dia.

'Ele ainda é um de nós'
Agora ele viaja de helicóptero e carros blindados, com os carros da polícia, com suas luzes piscando, abrindo o caminho ao longo das estradas. Voluntários montam aparelhos de ar condicionado e bufês nos aposentos de Lula, às vezes até mesmo estendem um tapete vermelho. A imprensa critica as despesas, mas isso não incomoda a maioria dos brasileiros, porque eles têm orgulho de seu presidente. Ele chegou ao topo, eles argumentam, então por que não desfrutar de seu sucesso? "Ele ainda é um de nós", diz Elizete, "porque ele é o pai dos pobres".

Lula está familiarizado com o destino dos nordestinos pobres do Brasil. Ele nasceu no sertão, mas sua mãe colocou seus filhos na traseira de um caminhão e os levou para São Paulo, 2 mil quilômetros ao sul. A posterior ascensão de Lula ao poder começou nos subúrbios industriais de São Paulo. Sua mãe foi uma das centenas de milhares de pessoas carentes que deixaram o sertão atormentado pela seca, com seus campos ressecados e animais morrendo de sede, e migraram para o sul mais rico, para trabalhar como porteiros, garçons, operários de construção ou empregados domésticos.

Em um plano para tornar verde esta região árida, Lula está explorando as águas dos 2.700 quilômetros do Rio São Francisco, um rio vital para grandes partes do Brasil. O rio fornece água para cinco Estados, mas ele passa em torno do Sertão. Segundo o plano de Lula, dois canais desviarão água do rio por 600 quilômetros até as áreas atingidas pela seca. "É o mínimo que posso fazer por vocês", Lula diz às pessoas na Barra.

Projeto controverso
O megaprojeto, que exige a superação de uma diferença de altitude de 200 metros, tem um custo estimado de R$ 6,6 bilhões. Lula posicionou soldados na região para escavar os canais. Oito mil trabalhadores labutam nos canteiros de obras enquanto tratores e escavadeiras movem a terra pela estepe. Se tudo correr bem, 12 milhões de brasileiros se beneficiarão com o projeto de transposição de águas, que deverá ser concluído em 2025. É o maior e mais caro projeto de Lula, assim como provavelmente seu mais controverso.

Aqueles que o apoiam comparam Lula ao presidente americano Franklin D. Roosevelt, que represou o Rio Tennessee nos anos 30, para fornecer eletricidade à região, e que lançou o New Deal, um imenso programa de investimento para superar a Grande Depressão. Mas os críticos veem a obra como um imenso desperdício de dinheiro. O projeto também atraiu a ira dos ambientalistas e até mesmo o bispo da Barra já fez duas greves de fome contra ele. Ele teme que o projeto de transposição das águas secará ainda mais o rio, alegando que a irrigação beneficiaria principalmente o setor agrícola.

O bispo não está presente. Dizem que ele está participando de reuniões fora da cidade. Na verdade, o religioso está mantendo discrição. As críticas ao presidente são desaprovadas por sua congregação. Lula fala a linguagem das pessoas comuns, contando histórias de sua juventude aos seus simpatizantes, histórias dos tempos em que sua mãe o enviava para buscar água e ele voltava para casa equilibrando um balde pesado sobre sua cabeça. Ele tinha cinco anos na época.

O Brasil já foi chamado de "Belíndia", um termo cunhado por um empresário que via o vasto país como uma mistura entre a Bélgica e a Índia, um lugar com riqueza europeia e pobreza asiática, onde o abismo entre ricos e pobres parecia intransponível. Lula foi o primeiro a construir uma ponte entre os dois Brasis.

Agora ele é tanto o queridinho dos banqueiros quanto ídolo dos pobres. Com o chamado presidente operário no comando, o Brasil está atraindo investidores de todas as partes do mundo. Jim O'Neill, o economista chefe do Goldman Sachs, inventou a sigla Bric para as economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China, prevendo um futuro brilhante para o gigante sul-americano. Mas seus colegas zombaram dele. A China e a Índia certamente tinham perspectivas, mas o Brasil? Por décadas o país era visto como um gigante acorrentado, atormentado por crises infindáveis e inflação.

Potência econômica ascendente
Mas hoje o "B" é a estrela entre os países Bric, com os especialistas prevendo um crescimento de até 5% para a economia brasileira em 2010. O Brasil está atualmente crescendo mais rápido do que a Rússia e, diferente da Índia, não sofre de conflitos étnicos ou disputas de fronteira. O país de 192 milhões de habitantes possui um mercado doméstico estável, com as exportações - carros e aeronaves, soja e minério de ferro, petróleo e celulose, açúcar, café e carne bovina - correspondendo a apenas 13% do produto interno bruto.

E como a China substituiu os Estados Unidos como maior parceira comercial do Brasil no início deste ano, o país não foi severamente afetado pela recessão no mercado americano como poderia ter sido. Os bancos do Brasil são fortes, estáveis e não encontraram grandes dificuldades durante a crise. Mais importante, entretanto, é o fato do Brasil ser uma democracia estável, ao estilo ocidental.

O país pagou sua dívida externa e até mesmo passou a emprestar ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo acumulou mais de US$ 200 bilhões em reservas e o real é considerado uma das moedas mais fortes do mundo. Especialistas internacionais preveem uma década de prosperidade e crescimento para o país. Lula prevê que o Brasil será uma das cinco maiores economias do planeta em 2016, o ano em que o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos. O país será sede da Copa do Mundo de 2014.

E ainda há os recursos naturais aparentemente ilimitados do Brasil, vastas reservas de água doce e petróleo. O Brasil exporta mais carne do que os Estados Unidos. E a China estaria em dificuldades sem a soja brasileira. Nos hangares da fabricante de aviões, a Embraer, perto de São Paulo, engenheiros brasileiros constroem aviões para companhias aéreas de todo o mundo, incluindo aviões para trajetos menores para a Lufthansa.

Um patriarca extremamente popular
Em outras palavras, o presidente Lula tem bons motivos para estar repleto de autoconfiança. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o estão cortejando, enquanto Wall Street praticamente o venera. Ele é até mesmo tema de um novo filme, "Lula, o Filho do Brasil", que descreve a saga de sua ascensão de engraxate a presidente.

Todo o Brasil desfruta da fama de seu presidente que, há menos de sete anos no poder, atualmente conta com um índice de aprovação acima de 80%. A oposição praticamente desapareceu e o Congresso se tornou submisso. Lula dirige o país como um patriarca, tanto que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o está acusando de "autoritarismo" e alertando que o Brasil está no caminho de um capitalismo estatal.

Há um quê de verdade nas alegações de Fernando Henrique. Lula nunca teve confiança na capacidade do mercado de curar a si mesmo e considera que o Estado deve moldar uma nova ordem social. Ele adora projetos impressionantes e gestos nacionalistas. Ele é pragmático, mas despreza especuladores. "Brancos com olhos azuis" levaram o mundo à beira da ruína financeira, ele disse recentemente. Ele falava dos banqueiros.

A crise financeira apenas confirmou o ceticismo de Lula em relação ao capitalismo. Lula acredita que o Brasil lidou melhor com a crise do que outros países porque o governo adotou medidas corretivas desde cedo. Segundo Lula, o combate à pobreza e a distribuição justa de renda não podem ficar aos cuidados do mercado.

Classe média crescente
Sob sua liderança, milhões de brasileiros ingressaram na classe média. A evidência dessa transformação social está por toda a parte: nos shopping centers do Rio e São Paulo, lotados de famílias barulhentas da periferia, ou nos aeroportos, onde mães jovens ficam na fila do balcão de check-in, aguardando para embarcar em um avião pela primeira vez em suas vidas. "A desigualdade entre ricos e pobres está começando a diminuir", diz o economista e especialista em estudos sobre a pobreza, Ricardo Paes de Barros.

A chave para aquela que provavelmente é a maior redistribuição de riqueza na história brasileira é o programa social Bolsa Família, sob o qual uma mãe carente que possa comprovar que seus filhos estão frequentando a escola recebe até R$ 200 por mês do governo. A primeira vista pode não parecer muito, mas este subsídio do governo ajuda milhões de pessoas a sobreviverem no Nordeste brasileiro.

Especialistas inicialmente criticaram o programa como sendo apenas uma esmola, mas agora ele é visto como um modelo mundial. Mais de 12 milhões de lares recebem os subsídios, com grande parte do dinheiro indo para o Nordeste. Graças ao programa Bolsa Família, a região antes atingida pela pobreza começou a prosperar. Muitos nordestinos abriram pequenas empresas ou lojas e a indústria descobriu o Nordeste como mercado. "Agora a região está crescendo por conta própria", diz Paes de Barros.

Lula foi abençoado pela sorte. Seu antecessor, Fernando Henrique, já tinha estabilizado a economia, que sofria com a hiperinflação, quando foi ministro da Fazenda em 1994. Ele impôs uma reforma da moeda ao país e implantou leis que forçaram o governo a adotar políticas com responsabilidade fiscal. Lula não mudou nada disso.

Não havia necessidade de Lula reinventar a política econômica e social do Brasil. O país tem uma tradição de controle total da economia pelo governo que remonta aos anos 30.

O plano Marshall próprio do Brasil
Os centros nervosos da política econômica do país ficam abrigados em dois imponentes arranha-céus no centro do Rio. O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que conta com seus escritórios em uma torre de aço e vidro, foi criado com a ajuda americana e usando o KFW Banking Group da Alemanha como modelo. Ele financiou uma versão brasileira do Plano Marshall.

Nos anos 90, o BNDES administrou com sucesso a privatização de muitas estatais brasileiras. Hoje, ele fornece assistência a fusões e aquisições corporativas, ajuda empresas em dificuldades e financia os investimentos estratégicos do governo.

O BNDES é altamente respeitado. Acredita-se que seja em grande parte livre de corrupção e ele paga os mais altos salários do país. "Há um ano, os bancos estrangeiros batiam à minha porta perguntando se o Brasil estava preparado para a crise financeira", diz Ernani Teixeira, um dos diretores financeiros do banco. Teixeira conseguiu tranquilizá-los, notando que o BNDES tinha separado R$ 100 bilhões em reservas adicionais. No ano passado, o banco emitiu mais empréstimos e garantias de empréstimos do que o Banco Mundial - e até apresentou um lucro respeitável.

O segundo pilar do milagre econômico brasileiro fica diagonalmente no outro lado da rua: um bloco de concreto, iluminado à noite com as cores nacionais, verde e amarelo, é a sede do grupo de energia semiestatal Petrobras. A empresa planeja investir US$ 174 bilhões nos próximos quatro anos em plataformas de perfuração, navios e outros equipamentos para explorar as grandes reservas de petróleo além da costa do Brasil.

Há um ano e meio, a Petrobras descobriu novas reservas de petróleo sob o leito do oceano. Mas o petróleo será difícil de extrair, por estar situado abaixo de uma camada de sal em profundidades de pelo menos 6 mil metros. A expectativa é de que os poços comecem a produzir daqui pelo menos seis anos. A receita desse petróleo será depositada em um fundo que o governo usará principalmente para financiar novas escolas e universidades.

Lula apresentou recentemente uma legislação que regulamentaria a exploração das reservas de petróleo submarinas, fortalecendo assim o monopólio da Petrobras. Especialistas temem que Lula esteja criando um monstro corporativo poderoso e corruptível.

Obstáculos burocráticos
O imenso apagão que ocorreu simultaneamente em grandes partes do país, há duas semanas, teria sido um sinal de alerta de que o governo está indo além de sua capacidade? A modernização da infraestrutura decrépita do Brasil está avançando, mas lentamente. Bilhões de dólares em investimentos em portos, construção de estradas e no setor de energia existem apenas no papel, com a implantação atrapalhada por uma burocracia kafkaniana e um Judiciário moroso. Além disso, o país também não teve muito sucesso no combate à criminalidade.

Lula tem mais um ano no poder, após ter resistido à tentação de manipular a Constituição para garantir sua reeleição para um terceiro mandato. Ávido em preservar seu legado, ele tem buscado a indicação de sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sua sucessora, apesar da resistência dentro do próprio Partido dos Trabalhadores.

Rousseff, que foi integrante dos grupos guerrilheiros de esquerda após o golpe militar de 1964 e que posteriormente passou anos presa, tem uma reputação de tecnocrata competente, mas é vista como inacessível e autoritária. Ela está acompanhando o presidente em suas viagens pelo país, inaugurando novas estradas e usinas elétricas. Lula a apoia de modo tão determinado que até parece estar fazendo campanha para si mesmo.

Ela também está com ele em seu giro pelo Nordeste, apesar dos médicos terem removido um tumor de sua axila há poucos meses. Acredita-se que ela esteja curada e ela atualmente usa uma peruca após a quimioterapia. Seu rosto é pálido e seu sorriso parece congelado. O presidente a puxa para o seu lado quando ele caminha até o microfone, e ele menciona o nome dela repetidas vezes.

Elizete Piauí, ainda completamente embriagada pelo seu encontro com Lula, a viu pela televisão. Ela sabe que Dilma é a candidata de Lula e ela fará campanha pela ministra, apesar de que preferiria que Lula permanecesse no poder. "Eu votarei em qualquer pessoa que ele indicar", ela diz.

Lula também prometeu retornar. Antes do fim de sua presidência, ele planeja fazer outra viagem ao Nordeste para ver o quanto progrediram as obras no Rio São Francisco. Talvez, espera Elizete, ele terá atendido seu maior desejo até lá e ela poderá servir a ele um copo de água - de sua própria torneira, em sua própria casa.

Tradução: George El Khouri Andolfato


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Ps: Não se esqueçam que nada é novo, apenas política de continuidade de algo que já foi planejado direcionado e com execução iniciada....

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