04 maio 2009

Eu apresento a página branca.

Contra:

Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras.

Eu apresento a página branca.
A árvore sem sementes.
O vidro sem nada na frente.
Contra a água.

Arnaldo Antunes in Tudos
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 Este é mais um daqueles achados que eu guardo e nunca sei aonde fica, mas com o passar do tempo resolve dar uma geral nas minhas coisas e acabo encontrando algumas perolas...
 Me lembro claramente que quando eu li e guardei este texto o autor deixou bem claro toda o seu inconformismo ( com o que não adianta perguntar, por que não me lembrarei mesmo), um manifesto simples, porém objetivo, e infelizmente atual até demais ainda.

02 maio 2009

Saudades daquela educação querida!

Domingo à noite com chuva. Nada melhor do que ficar em casa com pernas para o alto, assistindo à televisão. Isso até ver que o tema do próximo bloco do programa seria EDUCAÇÃO, o qual exibiria o resultado de uma pesquisa sobre desempenho escolar. Fiquei ainda mais apreensivo quando vi que o exame foi realizado em âmbito nacional o que culminaria, pensei, em críticas ao meu Estado. Começou a matéria e, com ela, as “bombas”. As notas revelam um Brasil que não sabe interpretar um texto nem realizar as operações elementares da matemática. Um Brasil que não sabe ler tampouco escrever. Mas a matéria seguia e, até aquele momento, nada se falara de Mato Grosso. Mostraram uma escola do Nordeste com a pior nota de português e uma outra, do Sul, com a pior de matemática. Confesso que, por instantes, mesmo diante daquele quadro, pude sentir certo alívio, afinal, meu Estado estava fora da lista. Sentimento nada nobre, confesso. Egoísta, aliás. Mas é nessas horas que vestimos a “camisa” não é mesmo? Entretanto, o alívio foi embora e, num segundo, voltei à realidade, a qual fora tantas vezes demonstrada em tantas outras pesquisas. O nosso Estado não só figurava na lista como também tinha posição de destaque. Melhor ainda, dobradinha digna daquelas das escuderias da Fórmula Um, que se sagram campeãs da competição: eleitas as duas piores escolas, Liceu Cuiabano e Presidente Médici, duas das mais tradicionais instituições de ensino de nossa capital. A chuva virou uma tempestade.

             Estudei no Liceu Cuiabano, onde concluí o meu 2º grau, hoje ensino médio. Lembro-me com carinho daquele lugar. Lugar de grandes homens e grandes mulheres. De pessoas que fizeram e continuam fazendo algo por nossa sociedade. E é este um dos motivos da minha tristeza e indignação: ver o nome, a história de um lugar como aquele naquela posição da pesquisa.

             É triste ver como o nosso ensino e suas instituições são tratadas em Mato Grosso. E não adianta dizer que investimentos foram feitos ou que os recursos destinados à educação aumentaram. Hoje queremos ver resultados. Acordei insultando todas as gerações de nossos governantes e dos responsáveis pela administração da nossa educação.

             Mas, como diria o velho ditado: “Nada é tão ruim que não possa piorar.”

             Manchete do Jornal Hoje: “Troca de socos vira diversão de estudantes em MT! Não bastasse o nome do Estado, lá estava novamente o do Liceu Cuiabano.

             Mas a notícia do almoço acabou suscitando alguns questionamentos: Qual o papel do estudante em tudo isso?

             Dias atrás, mais de mil estudantes reunidos na Praça Alencastro reivindicavam o direito ao passe livre irrestrito. Discussões acaloradas, estudantes batendo no peito, gritando, dizendo que os impediam de estudar.

             Mas será que estes mesmos alunos estariam dispostos a sair às ruas para exigir uma educação de qualidade? Será que estes mesmos alunos estão dispostos a encarar o fato de que, para que haja uma melhora significativa no resultado das pesquisas (na qualidade de nosso ensino) não bastam somente bons professores, boas instalações, mas sim DEDICAÇÃO por parte dos mesmos? Ouso dizer que a maioria não quer mudanças, pois isso resultaria na reprovação daqueles que nada querem com coisa alguma. Pois isto implicaria em trabalho, em disciplina, e mesmo em dedicar horas de seu “lazer” para estudos extra-escolares. Em regra, o aluno de nossa capital não quer estudar. Ele quer “passar de ano”. Para a maioria destes estudantes, professor bom é professor “bonzinho”, que conta piadas em sala de aula, é professor que aprova, independentemente se o aluno sabe ou não a matéria. Enquanto que os profissionais preocupados com a situação são expulsos (literalmente) das salas de aula pelos mesmos alunos. O pior é que o Estado adora os profissionais “bonzinhos”, que fazem os índices de aprovação ir às alturas, e o nome do Estado (leia-se Município também) aparecer bonito na foto, principalmente em época de eleição. E pena dos profissionais que se dedicam, por terem de se adaptar ao “mercado” porque, apesar do salário infame, é este que coloca comida no prato.

             O sistema público de ensino deveria ser o norte, o elemento organizador da educação num país. O problema é que no Brasil esse papel se perdeu, em especial, no ensino fundamental e médio. E isso só muda quando entendemos a importância que a educação tem para a constituição de uma sociedade.

             Precisamos mudar, precisamos cobrar. Precisamos avaliar nossa conduta como estudantes, como professores, como governantes. Não podemos tampar o sol com a peneira, precisamos encarar o problema apontado pela pesquisa e buscar a melhora do nosso ensino, resgatar a história de sucesso de nossas instituições.

             Ah... que saudade tenho daquela educação querida! 

01 maio 2009

A contra cultura liberta?

Ninguém sai daqui vivo, agora
Todos nós envelhecemos
(Five to one)
...
Não consigo ver seu rosto em minha mente
Cães de carnaval
Devoraram seus traços
Não chore
E não me encare
Com esses olhos
Não consigo encontrar a mentira certa
Cavalo da loucura
Enfeita o céu
Por favor, não chore
Não vou precisar de sua foto
Até dizermos adeus
(I Can’t see your face in my mind)
...
Oh, diga-me onde sua liberdade repousa
as ruas são campos que nunca morrem
liberte-me das razões porque
você prefere chorar
eu prefiro voar
(The Crystal chip)
...
Quando a música terminar
Apague as luzes
Cancele a minha inscrição para a ressureição
Mande minhas credenciais para a casa de detenção
Tenho alguns amigos lá dentro
O rosto no espelho não vai parar
A garota na janela não vai cair
Uma reunião de amigos
Esperando por mim
Do lado de fora
Antes que eu mergulhe
No grande sono
Eu quero ouvir
O grito da borboleta
Eu ouço um som muito suave
Muito perto mas ainda muito distante
Muito brando, sim, muito claro
O que eles têm feito com a terra?
Eu ouço um som muito suave
Com seu ouvido colado no chão
Nós queremos o mundo e o queremos...
Agora!
Noite persa
Veja a luz
Então quando a música terminar
Quando a música terminar
Apague as luzes
(When the music’s over)

Ler trechos dos poemas de Jim Morrison é quase como que ler Rimbaud, Baudelaire, Florbela e outros escritores beatniks que existem, alias são vários e gosto de boa parte.
Mas por que eu faço este tipo de comparação? Simples quando conheci os Doors aos 16 anos, adorava andar bêbado pela cidade a noite, exclamar poemas de Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, e alguém mais bêbado ainda me apresentou estes autores beat (não possuem nada de ver com as merdas dos Beatles), conversamos sobre coisas que a cachaça (hoje não disponho do mesmo pique alcoólico) não me deixava escapar daquela exortação toda... Agora entendo o porquê nas atitudes de alguns dos meus “Heróis”, mas vamos em frente...
Depois de conhecer este bando de loucos, alucinados etc. etc. me forma apresentados por meios deles outros tantos do mesmo estilo para pior, porém nada que me deixe envergonhado, muito do contrário, fico feliz...
Esta madrugada conheci uma garota mais maluca do que eu, e ela reclamava das mesmas coisas que eu reclamava na idade dela... Mas ela me falou algo que me deixou de cabelo em arrupiado (como se diz por aqui), que prefere ficar na ignorância mesmo, a torna menos infeliz, o pior que ela não deixa de ter razão... durma-se com este barulho.
When the music's over Turn out the lights
Prefiro assim!

Ileniel Nunes

A quem possa interessar...


A quem possa interessar
Quem ler que compreenda
Quem compreender que em silencio o guarde
Por que...
Os desejos ardentes
Brotam no coração
Como verdadeiras ervas daninhas
Quem planta e rega?
Não sei
Mas sei que:
Sem pedir aparecem
A vontade de falar é imensa
Mas falar para quem?
E para que?
Amarrando o futuro caminho no passado
Não possuo a emoção
Meu coração só sente aquilo que não toca
Ao acaso alguém já pegou sentimentos nas mãos?
De espírito inquieto navego
Nas bordas da insanidade
Abraço a minha realidade
Minha amante maldita
Ela me deixa lúcido
Quando mais quero estar é torpe
Criei um confessionário
Só meu
Ali no cantinho, um canto só meu
Quando algo acontece de errado
Eu mesmo me coloco de castigo
Mas por que tenho de confessar a mim mesmo?
Preciso apenas parar de acreditar em falsas promessas
Seguir adiante
Sem me importar
Um dia de cada vez
Todos os dias
É só o que almejo
Com ou sem a tua pessoa




Ileniel Nunes