02 maio 2009

Saudades daquela educação querida!

Domingo à noite com chuva. Nada melhor do que ficar em casa com pernas para o alto, assistindo à televisão. Isso até ver que o tema do próximo bloco do programa seria EDUCAÇÃO, o qual exibiria o resultado de uma pesquisa sobre desempenho escolar. Fiquei ainda mais apreensivo quando vi que o exame foi realizado em âmbito nacional o que culminaria, pensei, em críticas ao meu Estado. Começou a matéria e, com ela, as “bombas”. As notas revelam um Brasil que não sabe interpretar um texto nem realizar as operações elementares da matemática. Um Brasil que não sabe ler tampouco escrever. Mas a matéria seguia e, até aquele momento, nada se falara de Mato Grosso. Mostraram uma escola do Nordeste com a pior nota de português e uma outra, do Sul, com a pior de matemática. Confesso que, por instantes, mesmo diante daquele quadro, pude sentir certo alívio, afinal, meu Estado estava fora da lista. Sentimento nada nobre, confesso. Egoísta, aliás. Mas é nessas horas que vestimos a “camisa” não é mesmo? Entretanto, o alívio foi embora e, num segundo, voltei à realidade, a qual fora tantas vezes demonstrada em tantas outras pesquisas. O nosso Estado não só figurava na lista como também tinha posição de destaque. Melhor ainda, dobradinha digna daquelas das escuderias da Fórmula Um, que se sagram campeãs da competição: eleitas as duas piores escolas, Liceu Cuiabano e Presidente Médici, duas das mais tradicionais instituições de ensino de nossa capital. A chuva virou uma tempestade.

             Estudei no Liceu Cuiabano, onde concluí o meu 2º grau, hoje ensino médio. Lembro-me com carinho daquele lugar. Lugar de grandes homens e grandes mulheres. De pessoas que fizeram e continuam fazendo algo por nossa sociedade. E é este um dos motivos da minha tristeza e indignação: ver o nome, a história de um lugar como aquele naquela posição da pesquisa.

             É triste ver como o nosso ensino e suas instituições são tratadas em Mato Grosso. E não adianta dizer que investimentos foram feitos ou que os recursos destinados à educação aumentaram. Hoje queremos ver resultados. Acordei insultando todas as gerações de nossos governantes e dos responsáveis pela administração da nossa educação.

             Mas, como diria o velho ditado: “Nada é tão ruim que não possa piorar.”

             Manchete do Jornal Hoje: “Troca de socos vira diversão de estudantes em MT! Não bastasse o nome do Estado, lá estava novamente o do Liceu Cuiabano.

             Mas a notícia do almoço acabou suscitando alguns questionamentos: Qual o papel do estudante em tudo isso?

             Dias atrás, mais de mil estudantes reunidos na Praça Alencastro reivindicavam o direito ao passe livre irrestrito. Discussões acaloradas, estudantes batendo no peito, gritando, dizendo que os impediam de estudar.

             Mas será que estes mesmos alunos estariam dispostos a sair às ruas para exigir uma educação de qualidade? Será que estes mesmos alunos estão dispostos a encarar o fato de que, para que haja uma melhora significativa no resultado das pesquisas (na qualidade de nosso ensino) não bastam somente bons professores, boas instalações, mas sim DEDICAÇÃO por parte dos mesmos? Ouso dizer que a maioria não quer mudanças, pois isso resultaria na reprovação daqueles que nada querem com coisa alguma. Pois isto implicaria em trabalho, em disciplina, e mesmo em dedicar horas de seu “lazer” para estudos extra-escolares. Em regra, o aluno de nossa capital não quer estudar. Ele quer “passar de ano”. Para a maioria destes estudantes, professor bom é professor “bonzinho”, que conta piadas em sala de aula, é professor que aprova, independentemente se o aluno sabe ou não a matéria. Enquanto que os profissionais preocupados com a situação são expulsos (literalmente) das salas de aula pelos mesmos alunos. O pior é que o Estado adora os profissionais “bonzinhos”, que fazem os índices de aprovação ir às alturas, e o nome do Estado (leia-se Município também) aparecer bonito na foto, principalmente em época de eleição. E pena dos profissionais que se dedicam, por terem de se adaptar ao “mercado” porque, apesar do salário infame, é este que coloca comida no prato.

             O sistema público de ensino deveria ser o norte, o elemento organizador da educação num país. O problema é que no Brasil esse papel se perdeu, em especial, no ensino fundamental e médio. E isso só muda quando entendemos a importância que a educação tem para a constituição de uma sociedade.

             Precisamos mudar, precisamos cobrar. Precisamos avaliar nossa conduta como estudantes, como professores, como governantes. Não podemos tampar o sol com a peneira, precisamos encarar o problema apontado pela pesquisa e buscar a melhora do nosso ensino, resgatar a história de sucesso de nossas instituições.

             Ah... que saudade tenho daquela educação querida! 

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